Frederico Jota

Heysel, 29 de maio de 1985: o dia que o futebol mudou

Há 35 anos, a morte de 39 pessoas antes da decisão da então Copa dos Campeões entre Juventus e Liverpool iniciava uma nova era no esporte, dos estádios aos torneios

Por Frederico Jota
Publicado em 29 de maio de 2020 | 16:50
 
 
Atual fachada do estádio de Heysel, hoje chamado Estádio Rei Baudouin, em Bruxelas, na Bélgica Frederico Jota/ Arquivo Pessoal

    Há 35 anos, em 29 de maio de 1985, o futebol mudava de vez. Foi quando uma tragédia sem precedentes na Europa mudava os rumos do esporte. Naquele dia, no então estádio de Heysel (hoje Estádio Rei Baudoin), em Bruxelas, na Bélgica, 39 torcedores morreram pouco antes da decisão da então Copa dos Campeões (atual Champions League) entre Juventus e Liverpool. Inacreditavelmente, o jogo foi realizado, mas o desastre daquele dia plantou sementes em mudanças no formatos dos estádios e na relação com os torcedores.

    Em 1985, Heysel não era um local apropriado para receber uma decisão daquele porte. Na época a televisão alcançava cada vez mais gente, o que fez a tragédia chegar de forma ainda mais impactante ao grande público. Na década de 1980, o esporte sofria com o hooliganismo e outros problemas. Heysel escancarou tudo de uma só vez.

As mortes foram o resultado de uma confusão iniciada, antes do jogo, em um dos setores neutros do estádio, a zona Z. Parte dos fãs do Liverpool, ao que tudo indica, embriagados, passaram das frágeis barreiras de segurança e encurralaram os italianos, que não tiveram para onde correr. Prensados, esmagados, mortos por asfixia. As condições precárias de conservação do estádio, a falta de preparação policial e a lentidão para socorrer as vítimas também colaboraram para o desastre.

O jogo que jamais deveria ser realizado foi fraco, reflexo do abalo pelo o que tinha ocorrido. A Juventus venceu por 1 a 0, com um gol de pênalti assinalado por causa de uma falta que foi, na verdade, fora da área. Platini fez o gol e comemorou, em um dia que não devia ter comemorações. A Juve ainda faria uma volta olímpica, mesmo com a sugestão de receber a taça nos vestiários. Uma frieza que é difícil de aceitar. 

    O culpado maior foi eleito: o hooliganismo das torcidas inglesas. Os clubes da Inglaterra imediatamente ficaram proibidos de participar de todas as competições continentais por cinco anos - o Liverpool ficaria seis, o que causou sérios danos aos clubes do país. Outra mancha na história do futebol inglês aconteceu em 1989, em Hillsborough, quando 96 torcedores foram mortos em um dia de superlotação do estádio do Sheffield Wednesday e de ação equivocada da polícia. 

A tragédia na Bélgica acabou com a época romântica do futebol, expôs ao mundo a precariedade das estruturas de estádios velhos, a incompetência da polícia em lidar com torcedores violentos, reforçando a necessidade de uma profissionalização em todos os aspectos. Nascia ali a base para o que um dia viria a se transformar na milionária Champions League, com estádios adequados, regulamento que privilegia a participação das maiores marcas do continente e punições rigorosas para clubes e torcedores que burlarem as leis. Não precisaram esperar nem dez anos para tal. 

Por tudo isso, Heysel é emblemático. Para um fã de futebol como eu, visitar um local como esse tem muitos significados. Tive essa oportunidade. Hoje, um estádio muito bonito, dentro de um belo parque e ao lado de um dos símbolos da cidade, o Atomium, aquela estrutura de mais de 100 metros que reproduz o formato de um átomo. Quem vê toda a região, não imagina que o local vai ser eternamente lembrado por aquele triste dia, por mais bucólica que seja a atmosfera e por mais limpo e organizado que seja por dentro. O que ninguém poderia imaginar é que o mundo do futebol mudou ali, na capital belga, em maio de 1985.

Vários vídeos sobre a tragédia estão disponíveis. Escolhi um entre tantos para dar a quem não conhece uma noção do que aconteceu em Heysel.