A máquina de moer técnicos do Atlético segue a todo vapor e, desta vez, fez seu trabalho com extrema antecedência. Rafael Dudamel durou dez jogos, tempo suficiente para participar de dois dos maiores vexames da história do clube, as eliminações para Unión, da Argentina, e Afogados de Ingazeira. As saídas da Sul-Americana e da Copa do Brasil, aliadas ao quarto lugar no Campeonato Mineiro e ao péssimo desempenho em campo foram decisivos para a saída do técnico venezuelano. O que não faltaram foram erros nesse processo. E o que o clube precisa fazer para estancar essa instabilidade?

 

Primeiramente, o clube deveria entender melhor o perfil de Dudamel, saber das necessidades do treinador e avaliar a contratação de um técnico de seleção, cargo com rotina muito diferente da vivida em clubes. Além disso, qual seria o conhecimento de Dudamel sobre o futebol brasileiro? A aposta em um técnico de outro país foi interessante e trazer um treinador diferente das caras conhecidas do futebol local foi um fato novo bem interessante. Mas era preciso saber melhor quem era esse técnico, o que ele precisava e qual tempo seria necessário para o trabalho dele prosperar. Exatamente para não acontecer o que aconteceu.

 

Dudamel não conseguiu dar um padrão de jogo à equipe, experimentou vários jogadores e formações diferentes, o que é até normal em um processo de reconhecimento do terreno. Estava demorando demais para achar uma forma mínima de jogo e nem teve todos os reforços em mãos. Mas também herdou vários atletas que não foram escolhidos por ele e que foram mal em 2019. Em pouco mais de um mês, Dudamel não se adaptou e cometeu erros. Mas não é o único culpado. A diretoria atleticana tem uma enorme parcela de culpa nisso. E, desta vez, a demissão não ficou restrita à comissão técnica. As saídas de Rui Costa e Marques também foram justas e comprovam que todo o ônus não é apenas do treinador e de seus assessores. 

 

O clube precisa dar o cargo de diretor de futebol a profissionais mais capazes de montar elencos vencedores e também duradouro, além de escolher treinadores que possam ser capazes de dar ao time um padrão mínimo de jogo. Para isso, é interessante definir uma filosofia de jogo. Quer um treinador reativo, que privilegia a defesa, contrate e traga jogadores que possam exercer esse papel. O mesmo serve para um técnico extremamente ofensivo. E, claro, precisa dar tempo para a implantação dessa filosofia de jogo. Não tem jogador que consiga se firmar com mudanças constantes de padrão de jogo.

 

Como a temporada já começou, esse processo começa prejudicado, porque quem chegar vai herdar jogadores escolhidos por outros profissionais e vai ser pressionado pelos recentes resultados ruins e pela necessidade de retorno. O processo é longo, mas precisa ser iniciado.