Legislação

O que a Inglaterra fez para reduzir os casos de mortes e violência no futebol?

Medidas que foram tomadas a partir da década de 1990, incluindo leis e punições mais rígidas, ajudaram a mudar o grave cenário

Por Frederico Jota
Publicado em 10 de março de 2024 | 20:55
 
 
Tragédia de Hillsborough, em 1989, mudou os rumos do futebol na Inglaterra Foto: REPRODUÇÃO

O mais notório exemplo de redução nos casos de violência e mortes relacionados a brigas entre torcedores do mundo vem da Inglaterra. As medidas tomadas para conseguir colocar sob controle os famosos hooligans, protagonistas de cenas tristes não só no Reino Unido como em todo o continente europeu, tomaram uma direção definitiva e necessária no fim da década de 1980. As medidas mais radicais foram colocadas em vigor depois de uma sequência de tragédias - a definitiva delas em 15 de abril de 1989, em Hillsborough, estádio do Sheffield Wednesday. O modelo das ações se tornou efetivo e muito do que foi feito serviu como inspiração.

Nesse dia, 97 pessoas morreram e centenas ficaram feridas no jogo entre Liverpool e Nottingham Forest, pela Copa da Inglaterra. Os erros da organização e da segurança, que permitiram uma superlotação do estádio,  somados à estrutura arcaica do estádio, resultaram na tragédia. Os alambrados que impediram que os torcedores usassem, por segurança, o gramado como via de escape, tiveram um efeito desastroso. No auge do hooliganismo na Inglaterra, torcedores foram acusados de forma equivocada e a violência entre torcidas também recebeu seu carimbo, apesar de não ter sido uma briga entre fãs de clubes rivais.

Um inquérito foi aberto e, mais do que apurar responsabilidades, mostrou o caminho para o que poderia mudar na segurança e na erradicação da violência no futebol. A sistematização das normas ficou a cargo de Lord Justice Taylor e se transformou no Relatório Taylor, publicado em 1990.

De forma resumida, alguns pontos foram preponderantes na estratégia para reduzir os casos de violência. Primeiramente, os estádios passaram por uma grande modernização, com colocação de cadeiras, a erradicação dos alambrados e a instalação de sistemas eficientes de monitoramento de imagem não só internamente como no lado externo. O efeito imediato foi o aumento do preço dos ingressos, o que resultaria em um processo de elitização que gerou muitas críticas.

Para controlar os acontecimentos, houve investimento em segurança, com oficiais passando por treinamentos e o serviço de inteligência recebendo recursos que ajudaram a evitar brigas e confrontos e também a identificar criminosos e baderneiros.

Um ponto decisivo foi a mudança na legislação, o que resultou no maior rigor para prisões e também banimentos de torcedores dos estádios. Diversos crimes foram tipificados e não só brigas, como desordem pública, invasão de campo, ofensas, posse de armas, uso, posse e arremesso de artefatos de fogo, cambismo e depredação, entre outros. E, claro, responsabilidades foram definidas e os clubes tinham seu peso nisso.

Ao longo dos anos, milhares de pessoas foram proibidas de entrarem em estádios ingleses, por períodos variados, outros tiveram que se apresentar em delegacias em dias de jogos, sem contar aqueles que foram presos. O serviço de segurança também monitorou aqueles torcedores que aprontaram fora do país. Toda e qualquer ocorrência passou a ser registrada, o que ajudou a controlar e a entender o que acontece no país. Com estádios e arredores mais seguros, leis e punições mais rígidas, a história mudou.