GILDA DE CASTRO

A família na atualidade e os novos problemas sociais

A elite constrói sua rede de relações a partir das parentelas

Por Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2018 | 03:00
 
 
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As sociedades ocidentais destacam a família nuclear; por isso, sociólogos, economistas e psicólogos empenham-se em sua análise. Os antropólogos priorizam, entretanto, o estudo dos sistemas de parentesco, porque consideram aquela instituição uma forma específica de organizar as relações de consanguinidade e afinidade, a socialização das crianças e a reprodução da força de trabalho. Enfatizam que essa rede é mais importante para a identidade social das pessoas, a organização política do grupo e as estratégias de sobrevivência em momentos de privação.

A elite brasileira constrói sua rede de relações sociais a partir das parentelas, que constituem uma das bases para as oligarquias garantirem sua hegemonia. O poder local, por exemplo, é controlado por líderes que se cercam de consanguíneos, afins e afilhados porque reconhecem a importância de parentes como aliados para perpetuar seu domínio.

O sistema de parentelas é eficiente para a formação de redes de relacionamento, que são grupos amorfos, mas consolidam uma base para gerar benefícios obtidos pela troca de serviços e favores ao exigir de seus membros a reciprocidade, nas organizações ou no Estado. Isso torna aqueles sistemas funcionais, porque lhes dá muita flexibilidade.

Na população de baixa renda, o pragmatismo norteia as relações de parentesco, em que há ênfase no contato com os parentes que possam ser úteis, deixando em segundo plano aqueles de quem nada se espera. Como os membros desse grupo não têm acesso às instâncias formais da sociedade, eles consolidam algumas amizades para superar situações muito difíceis. O apoio da parentela é crucial na chegada do migrante à cidade grande, na procura de trabalho e nos casos de doenças ou perda de moradia em calamidade. Assim, os grupos domésticos abrangem, frequentemente, além do casal e seus filhos, tios, primos ou sobrinhos que não podem pagar residência independente ou ainda estão se adaptando ao novo ambiente.

Enquanto isso, a classe média prende-se ao modelo da família nuclear, com suas peculiaridades atuais, admitindo o isolamento na cidade grande. Prefere viver suas crises sem interferência externa, embora a redução da prole possa fomentar o individualismo e enfraquecer a solidariedade entre irmãos. Ou seja, investe-se muito na relação pais/filhos e pouco no contato com os demais parentes.

Três problemas decorrem dessa postura.

O primeiro é a exacerbação daquele individualismo, pois as pessoas preservam seu núcleo privado e pouco ou nada compartilham com seus parentes colaterais.

O segundo refere-se à orfandade, em que, no caso de morte prematura de pais, as crianças não recebem proteção plena de alguém próximo, física e afetivamente. Isso não acontece com quem tem contato intenso com sua parentela, porque os órfãos são, geralmente, amparados pelos parentes com quem partilhavam experiências.

Finalmente, a solidão dos idosos vem se tornando um problema crescente. Quem não fomentou os vínculos com seus irmãos nem maximizou o relacionamento com seus filhos fica reduzido ao apoio apenas destes, mas essa proteção nem sempre vem de forma eficiente. Os jovens não têm interesse pelos problemas de outra geração; comportam-se, portanto, diante dos pais com tédio e aversão, embora nem sempre os abandonem em asilos porque temem a censura social.

Cultivando a relação com os irmãos, haveria apoio em seu grupo geracional porque seria solidariedade entre iguais.