A humanidade tem vivido experiências magníficas desde o final do século XVIII, pois a Revolução Industrial alterou radicalmente o modo de vida em muitos países. Grande parte da população teve acesso à educação, ao desenvolvimento tecnológico e a recursos médico-sanitários, que propiciaram vida mais longa. As conquistas foram ainda maiores com os instrumentos eletroeletrônicos e a criação das redes sociais, na internet, permitindo a manifestação do pensamento e acesso a informações de todos os matizes teóricos, operacionais e ideológicos.
Houve expressivo crescimento populacional com alta concentração em alguns territórios que necessitaram de intervenção maciça para propiciar conforto e segurança aos habitantes: edifícios, pavimentação, transporte coletivo, sistema de água e esgoto, rede elétrica, coleta de lixo e outros serviços. Isso tem elevado potencial para poluir o ambiente e devastar a natureza.
Esse modo de vida sugere a seguinte reflexão: a espécie humana é mesmo inteligente? Ela está percebendo que um sistema produtivo fundado no intenso consumo de bens por uma grande população, diante da finitude dos recursos minerais, não é sustentável em longo prazo? Como ela está interpretando a desertificação de muitas áreas, a redução considerável de água potável e os arrasadores fenômenos climáticos sem aviso prévio? Eles não são indícios de que o planeta não suportará, por muito tempo, a devastação gerada justamente pela insaciável vontade de produzir riqueza e fomentar o consumo em cadeia fechada?
As favelas constituem um triste cenário pelo esgoto a céu aberto, material improvisado das construções e confuso aglomerado, mas não podemos dizer que sua população seja a principal responsável pela destruição da natureza, mesmo que tenha invadido uma área de preservação ambiental.
As classes privilegiadas têm mais responsabilidade, porque demandam muito mais recursos, diante da sua avidez para usufruir sempre muitas novidades, ter espaços individualizados e demonstrar sua capacidade para pagar bens com alto prestígio. Por que uma madame precisa ter 300 pares de sapatos? Por que uma suíte para um casal é construída com dois banheiros? Por que uma família de quatro pessoas vive numa mansão de 1.200 m² e tem seis carros na garagem? Por que milhares de pessoas estão trocando celular em menos de um ano para acompanhar as novidades tecnológicas? Todos são bem-vindos nas empresas, porque construímos um sistema produtivo que se sustenta na compra contínua muito além das necessidades básicas, para que essas organizações tenham crescimento permanente.
Existe ainda outro problema, além dessa equação de consumir intensamente recursos naturais finitos: os dirigentes empresariais preferem a automatização para redução dos custos de mão de obra, ignorando que as populações urbanas dependem do salário para sobreviver e são consumidoras de inúmeros itens produzidos em circuito integrado. Não consideram, portanto, quando seguem a proposição aparentemente mais moderna, o impacto que a redução dos postos de trabalho provoca na economia, porque cada empregado precisa comprar sempre alimentos, roupas, calçados, medicamentos e lazer, fomentando todo o sistema produtivo. E as moderníssimas máquinas que os substituem não farão isso, porque jamais serão consumidoras de diferentes itens. Eram, antes, recursos naturais e serão apenas sucatas poluindo o ambiente, em poucos anos.