Gilda de Castro

O fascínio pelo 8, as efemérides e as infindáveis rebeliões

Publicado em: Sex, 28/12/18 - 02h00

Diferentes povos sentem fascínio pelo número 8, acreditando que ele simboliza o equilíbrio cósmico e é infinito, pois sua forma não apresenta começo nem fim. Os japoneses definem-no como sagrado, enquanto os cristãos consideram que ele anuncia a prosperidade e a bem-aventurança de um novo mundo. Conquistas e tragédias aconteceram, entretanto, em datas sem esse final, como a descoberta da América (1492), a Independência do Brasil (1822), o tsunami e incêndio em Lisboa (1755) e o ataque terrorista aos Estados Unidos (2001). De qualquer forma, 2018 foi marcado por muitas efemérides, como o centenário do término da Primeira Grande Guerra, que mereceu uma celebração em Paris. As lembranças à assinatura do Armistício de Compiègne, em 11.11.1918, não deram, entretanto, margem para referências à pandemia mais letal da história da humanidade, que ceifou mais de 20 milhões de vidas naquele ano e no seguinte.

Outra efeméride importante é relativa aos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada por 48 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), em Paris, no dia 10.12.1948. Ela não impediu inúmeros conflitos em muitos países, mas tem inspirado reflexões sobre a prevalência da tirania, da discriminação étnica e da desigualdade social no terceiro milênio.

O século XX foi especialmente marcado pelo ano 1968, que vem inspirando muitas análises para identificar as causas de tantas rebeliões em diferentes metrópoles, com desdobramentos na política, na educação, na moda, na sexualidade e nas relações de trabalho. A China estava muda com a Revolução Cultural, iniciada em 1966, mas parecia que o mundo estava de pernas para o ar.

O distanciamento temporal permitirá análises mais objetivas sobre suas causas e consequências na França, nos Estados Unidos, na antiga Tchecoslováquia, no México, na Itália e na Argentina. Reconhecemos, atualmente, que havia problemas locais e mundiais, porque avanços tecnológicos impactavam a sociedade que preservava valores tradicionais sobre família, condição feminina, universidade, estética, direitos civis, discriminação racial e governos autoritários. Isso mobilizou a juventude, que imprimiu característica própria às insurreições em cada país.

A situação no Brasil era mais crítica porque o autoritarismo foi instalado em 1964 e não surgiam soluções para os antigos problemas relativos à desigualdade social, à urbanização desordenada, aos desequilíbrios regionais e à infraestrutura obsoleta. Os estudantes contestavam a reforma universitária e combatiam o governo militar, que restringia as liberdades individuais, censurava as artes e perseguia os adversários do regime.

A decretação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), no dia 13.12.1968, foi um pesado golpe na democracia e calou rebeldes, descontentes e adversários até 1978. Há, atualmente, muitas análises para identificar seu impacto na formação de lideranças políticas, na resistência das oligarquias e na elaboração de políticas públicas. Fica a perplexidade da preservação do caótico sistema educacional, do fosso entre ricos e pobres, da insegurança, da corrupção, da ineficiência do Estado mastodôntico e da péssima infraestrutura.

Em 2018, os brasileiros não curaram feridas antigas nem resolveram graves problemas socioeconômicos. A campanha eleitoral mostrou como não nos detemos na construção de diálogo solidário, travando apenas embates sem propostas efetivas para modernização do país. O que 2019 nos reserva?

 

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