Kênio Pereira

Estratégia jurídica muda conforme o que é dito ou feito

Cada movimento pode ser decisivo

Por Kênio Pereira
Publicado em 08 de fevereiro de 2024 | 07:00
 
 
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A advocacia costuma ser diminuída quando as pessoas não desejam pagar um profissional pelo seu conhecimento especializado, já que entendem que basta pesquisar no Google ou fazer uma consulta rápida para dominar uma situação jurídica.

Essa percepção equivocada de muitos sobre o verdadeiro valor do trabalho de um advogado contribui para a proliferação de espertalhões que lucram ao oferecer negócios ou facilidades que acabam lesando milhões de pessoas e empresas e que depois geram milhares de processos com baixo índice de êxito.

No país onde vale tudo, pois nem a Constituição Federal é respeitada, vemos os golpes, injustiças e arbitrariedades prosperarem, especialmente pelo fato de o povo brasileiro ser pacífico, esperançoso e tolerante. Os que optam por evitar um atrito perdem seu direito e favorecem aqueles que não se constrangem em lesar o próximo.

A análise de uma questão vivenciada por um cliente muitas vezes não pode ser definida em uma única consulta, sendo necessário o estudo e aprofundamento de documentos e maior detalhamento das circunstâncias envolvidas, para que o prognóstico seja mais real. Deve-se considerar diversos desdobramentos, não existindo apenas uma possibilidade ou solução. A consulta é limitada.

A estratégia desenhada pelo advogado na busca da solução do problema do cliente possui uma gama de possibilidades que se modificam a depender das ações e reações do cliente, bem como dos terceiros envolvidos, o que pode agravar a situação e modificar totalmente a estratégia inicialmente pensada.

Aprendizado instantâneo? Um erro comum e muitas vezes sem correção se dá quando o cliente, ao se consultar com o advogado especializado, passa a acreditar que dominou o assunto e entende ser dispensável o trabalho orçado pelo profissional ou, ainda, quando opta por levar as ideias e estratégias traçadas pelo expert para outro advogado menos especializado, buscando um preço menor.

Nessas situações, vemos o comprometimento da estratégia. O cliente não sabe transmitir exatamente o que foi falado na consulta, e, ainda, o outro profissional não é autor daquelas ideias e, por isso, não vislumbra o que é necessário para o sucesso.

Como em um tabuleiro de xadrez, na advocacia, o próximo passo somente se define diante do último movimento do adversário, sendo impossível prever a sequência de todos os movimentos, mas, sendo um profissional qualificado, saberá lidar com cada situação e antever alguns movimentos que evitam situações desagradáveis ou prejuízos. O expert na consulta imagina um prognóstico para precificar a busca do resultado, pois é isso que interessa, sendo o patrimônio intelectual personalíssimo. 

Vemos as estratégias se frustrarem quando o cliente deixa passar um tempo precioso ou toma atitudes inadequadas após a consulta, tornando-se impossível ao advogado agir como tinha previsto. É comum nos depararmos com clientes que retornam ao advogado especialista narrando que o cenário inicial se tornou mais complexo. Isso caracteriza verdadeira autossabotagem, pois as possibilidades de resolução se modificaram e, certamente, o trabalho do advogado será muito maior e, portanto, mais caro.

Kênio Pereira
Advogado e diretor regional da Associação Brasileira de Advogados do Mercado Imobiliário