LAURA MEDIOLI

Da tampinha à geladeira

Desde que me entendo por gente, abraço campanhas do tipo 'junte tantas latinhas e envie para o endereço tal, cuja venda se destina à entidade tal'

Por Laura Medioli
Publicado em 23 de outubro de 2021 | 03:00
 
 
Acir Galvão

– Laura, pelo amooor de Deus, se chegar uma visita aqui, como explicar isso? – diz meu marido desviando-se das trocentas caixas de papelão, sacos enormes e sacolas espalhadas pela sala.

Desde que me entendo por gente, abraço campanhas do tipo “junte tantas latinhas e envie para o endereço tal, cuja venda se destina à entidade tal”.

Pois é, há alguns meses minha casa virou um depósito de caixas de papelão, plásticos em geral, garrafas PET etc., etc.

No momento participo de três campanhas, envolvendo meus familiares, amigos, funcionários e vizinhos, que têm contribuído de forma bem bacana.

Uma delas é a do Projeto Tampatinhas, com a proposta de juntar o máximo de tampinhas de garrafas PET, de xampu, desinfetante, creme dental e outras, para serem vendidas e cuja renda é direcionada a castrações de animais de rua. Nem preciso dizer que me empolguei com a ideia, tanto que já tenho aqui duas caixas grandes repletas de tampinhas coloridas, isso fora as campanhas que se iniciarão nas empresas do Grupo Sada e na Prefeitura de Betim, por meio da Secretaria do Meio Ambiente e Superintendência de Proteção Animal, com a finalidade de doá-las para o Tampatinhas. A Stephanne e a Vanessa são as organizadoras desse projeto (não governamental) em Betim. Para elas e equipe, envio meus cumprimentos, assim como à Val Consolação, cujo Projeto de Castração Ecológica é um sucesso em Belo Horizonte.

Lembro-me de uma prima que juntava e também me fez juntar lacres de latinhas de cerveja e refrigerantes, se não me engano para aquisição de cadeiras de rodas. Eu me empenho nessas campanhas que, normalmente, unem o útil ao agradável, ou seja, ajudam quem precisa e retiram do meio ambiente objetos poluentes, além de envolver a comunidade numa causa do bem.

Semana sim, semana não, a camionete de minha casa, uma jurássica D20, meio “pau pra toda obra”, segue lotada de recicláveis para uma entidade chamada Ascapel (Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis) em Betim. Familiares, amigos, vizinhos, funcionários, todos a quem peço, separam em suas casas os recicláveis, sejam papelões, garrafas, vidros, latinhas, plásticos, entre outros, e me enviam. As tampinhas para as castrações também não fogem à regra: minha cunhada vai pessoalmente aos restaurantes que frequenta para pedir; ela é uma amante dos animais e, assim, sente-se envolvida na causa. Fico impressionada com o volume de materiais que seriam descartados no lixo, com destino incerto. Tiro um tempinho para separar tudo e enviar à Ascapel, cujas trabalhadoras (na maioria mulheres) da venda retiram o sustento de suas famílias. De vez em quando envio roupas, sapatos e bijuterias para serem distribuídos entre elas.

Aliás, se tem uma coisa que precisa circular são as roupas. Por muitos anos, me dediquei à organização de bazares em vilas e aglomerados na região metropolitana. O dinheiro das vendas era revertido para as próprias comunidades, como na compra de caixas de esgoto, calçamentos de becos e coisas do tipo. Há tempos costumo doar em dobro o que compro. Explico: se compro duas peças de roupa, tenho de passar pra frente quatro, sejam roupas ou sapatos. Se tem uma veste que há mais de um ano não uso, é porque ela não me faz falta, e, assim, para que deixá-la entulhando o armário? A vida nos pede simplificações, o menos que é mais.

E, já que falo em recicláveis, dou uma dica para quem tem lixo eletro-eletrônico em casa, de pilhas velhas a geladeiras detonadas. Junte tudo e ligue para o BH Recicla, que eles vão buscar no local.

Há mais de um mês venho ajuntando embalagens de remédio (blíster) para a próxima campanha do Minas Tênis Clube, em parceria com o Lions, cujo destino será o Hospital de Câncer Infantil de Barretos. Tomou remédio? Guarde a embalagem, aquela prateada que envolve os comprimidos, pois ela será útil a alguém. A campanha, que no mês de setembro foi um sucesso, em janeiro se repetirá. Já tenho aqui uma sacola cheia.

Meu marido reclama da bagunça, mas aprova totalmente as ações, tanto que foi graças a ele que eu e nossas filhas (desde crianças) adquirimos o costume de sair pelas praias catando plásticos e lixos na areia. Doidos? Não, apenas conscientes.

 

Para quem quiser ajudar, seguem alguns contatos: Ascapel - (31) 98651-3952 (Andressa); Projeto Tampatinhas, em Betim - (31) 99662-3883 (Stephanne); e Projeto de Castração Ecológica, em Belo Horizonte - (31) 99286-1090 (Val Consolação).