LAURA MEDIOLI

Tempo que voa...

Laura Medioli reflete sobre a passagem do tempo. Leia a coluna na íntegra

Por Laura Medioli
Publicado em 25 de novembro de 2023 | 03:00
 
 
Hélvio

Ultimamente, pra fugir do “torrômetro” que virou nossa cidade, tenho frequentado os shoppings com mais assiduidade, seja para almoçar, resolver compras de farmácia, mercearia, presentes pros netos, tudo de uma vez, com direito a estacionamento e ar-condicionado. Sim, o ar-condicionado!!! Quem foi o gênio que inventou isso? E foi nos shoppings, há mais ou menos um mês, que comecei a ver vitrines com motivos natalinos. Levei um susto, afinal o fim de ano já estava ali, batendo à nossa porta, com todos os apelos comerciais que surgem na ocasião.

– Putz! – pensei, encabulada. O fim de ano já chegou? Como assim, se outro dia mesmo estávamos nos organizando para 2023?

E o Papai Noel da vitrine, movido a pilhas, sorridente e falando “Ho-ho-ho”, me coloca de sobreaviso.

Fico pensando: será que na maturidade essa sensação de rapidez com que o tempo passa é maior do que nos jovens? Com certeza, afinal nunca escutei de um jovem a frase “Esse ano voou!”.

Jovens têm todo o tempo do mundo pela frente, talvez por isso não se preocupem muito em como gastá-lo.

E assim vão seguindo, com suas preocupações, que cabem num caixote, enquanto adultos as têm depositadas em contêineres, que aumentam ainda mais quando eles pensam que talvez não tenham tempo ou condições para se desfazer deles.

Bobagem! No final das contas, partimos sem levar nada. Com o passar das gerações, não seremos nem retratos esquecidos no fundo de uma gaveta, até porque eles não mais existirão.

E vamos nos apercebendo de que ninguém neste mundo é insubstituível. Mas não é por isso que devemos passar incógnitos em nossas vidas, sem deixar uma marca, um registro, um feito positivo, uma obra, nem que seja pequena, mas que seja útil.

As boas ações têm um poder duplicador. O bem gera o bem, incentiva, faz crescer, dá esperança, acolhe, ilumina e deixa a sua marca.

Em casa, arrumando estantes do meu armário, com suas muitas caixas que nunca tive coragem de me desfazer, encontro fotos antigas da família: minha avó no dia de seu casamento. A cara igual à da minha tia… será que é a tia? Separo para perguntar depois à minha mãe.

As fotos estão desgastadas, amarelas. Aproveito para fotografá-las e compartilhá-las no grupo de WhatsApp da família. Meus irmãos têm de saber como era a nossa avó no dia em que se casou. Ou a tia, sei lá…

Das caixas gigantes vão despontando surpresas, cartinhas de infância que eu e meus irmãos escrevíamos aos nossos pais. Também merecem ser fotografadas e ir para o grupo, a fim de lembrarmos como éramos felizes e engraçados naqueles mal traçados rabiscos, com seus erros gramaticais e uma imensidão de amor.

Pois é, 2024 está aí, batendo às nossas portas, com duas guerras absurdas no meio do caminho. O tempo voou, pensei mais uma vez com meus botões. E eu aqui, olhando a chuva que finalmente cai forte no jardim. Aquele barulho abençoado, seguido por trovoadas que fazem tremer nossas cachorras…

E, nesse meio-tempo, volto aos retratos que espalhei na cama e penso nos meus antepassados… E agradeço-lhes pela minha existência. Vou levando, deixando minhas marquinhas, registros de alguém que partirá um dia, feliz por ter vivido com intensidade e retidão a vida que Deus tão generosamente lhe deu.