LAURA MEDIOLI

Uma magrelinha cheia de graça

No dia seguinte, ao retornar de viagem, largando as malas pelo caminho, sou recebida pela Vlora, com pulos, latidos eufóricos e lambidas no rosto

Por Laura Medioli
Publicado em 21 de maio de 2022 | 03:00
 
 
Acir Galvão

Em abril passei uns quatro dias na casa de uma amiga em Trancoso. Até que, num final de tarde, recebi uma mensagem do meu marido pelo WhatsApp. Enviou-me a foto de uma cachorrinha, vira-latinha tigrada, bem parecida com a nossa pit-lata.

– Uai! Quem é? – pergunto, curiosa. – Parece demais com a Vlora! – comento em seguida.

– É a filhinha que a Vlora nunca teve, estou levando para ela. Deve ter uns 8 meses... – ele respondeu.

– Como assim? É filhote? Seria bom fazer exames antes de levar. Ela está na Sepa? – perguntei.

– Está aqui, no meu gabinete. Achei no pátio da prefeitura. Depois você leva pros exames.

– Rsrsrs... pode deixar! Chegando em casa, eu olho tudo.

– Ela está limpinha e sadia. Está aqui quietinha. Vou levar pra casa, não tem onde deixá-la.

– Ok, cuidado na hora de soltá-la. A última que adotei fugiu com o portão aberto. Ficam apavorados...

– Ela é muito mansa e medrosa, vou soltar com as portas fechadas.

Uma hora depois...

– Já chegaram em casa? Mande mais fotos.

– Estamos a dois minutos. Vomitou no carro todo!

– Ai, Deus!!!

Dali a pouco, outra foto, com a bichinha deitada na cozinha frente a um prato de ração.

– Não sai do lugar! Cadela traumatizada...

– Tadinha, logo se acostuma! Mais uma que ganhou na Mega-Sena. Doida pra conhecer ela amanhã – respondo, entusiasmada. – E a Vlora? Como reagiu?

– Não quer saber dela, não cheira nem chega perto.

– Depois se acostuma – comento. – Questão de tempo, só a gente tomar cuidado pra ela não ficar com ciúmes.

E por fim:

– Temos carinho para todas!!!

No dia seguinte, ao retornar de viagem, largando as malas pelo caminho, sou recebida pela Vlora, com pulos, latidos eufóricos e lambidas no rosto.

Quero saber da “Vlorinha”, ou “Baby Vlora,” como minhas filhas a chamam, ou Julie, como a chamamos. Ou, se preferirem, Judite, como a atendente da clínica veterinária a registrou. Só rindo!

Mais de um mês após chegar em minha casa, ela ainda não entendeu que tem um nome. Culpa nossa, que a cada hora a chamamos de um jeito.

– JU-LIE-EEEE!!! – quando estou nervosa e quero chamar sua atenção pelas Havaianas destruídas, caminhas rasgadas, pontas de tapetes comidas ou invasões gastronômicas à mesa, que rapidamente aprendeu a escalar.

– Vloriiiiiinha! – quando transfiro o mesmo afeto que tenho pela outra, Vlora, a pit-lata mais amada do mundo!

E, quando a levo para se vacinar na clínica em que vai toda empertigada, com sua roupinha azul-marinho de frio, já chego anunciando: – Judite!!!

Em menos de um mês, aquela coisa magrelinha, cheia de graça, que aqui chegou mostrando todos os ossinhos do corpo, já havia conquistado a todos. Inclusive a “mamãe” Vlora, que, por incrível que pareça, com seus quase 9 anos, nunca conviveu tão bem com uma “intrusa” de última hora.

Enquanto escrevo esta crônica, neste friozinho de maio, vejo as duas no gramado brincando sob o sol. Uma querendo tomar o graveto da outra. Vlora e sua Vlorinha. Às vezes penso que meu marido tinha razão quando me disse ao adotá-la: “Ela é a filhinha que a Vlora nunca teve, estou levando para ela”.

E cá com meus botões, penso, satisfeita: para ela e para todos nós!!!