A Voz Poderosa da Super

Vai ser difícil, meu amigo. Era sempre um boa tarde antes de pedir a minha opinião.

Vejam só: Hércules Santos, um dos mais brilhantes profissionais que conheci na vida, com essa voz absurda, me pedindo opinião. A minha opinião.

As gravações diárias, as piadas, as palhaçadas...

Nos consolidamos sempre às 17h na Super FM, gerando discussões que nunca foram combinadas. Era simplesmente você sendo você. Ranzinza, do seu jeito insuportável às vezes, mas sempre com um sorriso no rosto e disposto a ajudar.

Quando o microfone se desligava, era o momento que vinham os melhores comentários. E era assim que a gente se entendia. Você era excepcional no ar, mas muito melhor fora dele.

Conseguimos viajar à trabalho pela primeira vez juntos há duas semanas. O cenário era o frio interior da Argentina.

E quem não estava bem era eu. Você, preocupado, estava sempre disposto a ajudar. Inclusive, meu amigo, eu ainda não devolvi sua blusa de frio que literalmente me salvou em Santa Fé.

Eu não tinha visto as suas redes sociais, companheiro. Não imaginei que você tivesse gostado tanto da sua foto narrando. Para falar a verdade, achei que o reflexo do vidro que nos separava tivesse atrapalhado o foco, a luz. Mas enfim, como você mesmo me falava, gosto é gosto.

Nosso último papo foi sobre sonhos e realizações. A fotos da Golden Gate, as do estádio “de verdade”, como você gostava de falar... Sendo honesto, eu nem sabia qual estádio era, mas fingi bem pelo visto, porque você não comentou nada.

Você estava feliz me contando como foram seus últimos dez anos e como a vida te colocou num cenário perfeito. O amor pelos seus filhos, que você sempre fazia questão de me mostrar os vídeos; a esposa rock and roll; o apartamento e as narrações evoluindo como um Diamante, que já estava mais que lapidado.

O que eu sei, meu amigo, é que nunca mais vou tirar sarro da sua calça mostarda ou beterraba.