À medida que a temporada avança, ficam notórios os problemas de organização no futebol brasileiro. Para completar a nossa incompetência, junta-se à CBF e à FMF a Conmebol, que conseguiu dar amplitude maior a suas competições, mas se esqueceu de conversar com suas filiadas sobre as possibilidades.
A Libertadores e a Sul-Americana foram esticadas de janeiro a novembro. A princípio, a novidade fica por conta de as fases finais acontecerem no mesmo momento em que nossos campeonatos também serão decididos. Isso não é necessariamente ruim, mas se não houver planejamento e padronização do calendário, as equipes sucumbirão muito antes do grande momento da temporada.
Alguns clubes, entre eles Atlético e Cruzeiro, já passaram de 40 jogos só em 2017. A Raposa, que está fora da principal competição sul-americana, jogou até mais: 41 vezes. É um absurdo, que não prejudica só as equipes, como também os torcedores, que precisam desdobrar-se para acompanhar seu time.
O que me deixa perplexo é como se mata o Brasileirão, jogado em sete meses. São 38 rodadas amassadas em pouco mais de 210 dias, junto com as fases finais da Copa do Brasil e da Copa Libertadores.
Os estaduais, em sua maioria, são desastres técnicos, que “roubam” quatro meses do ano. A Raposa, por exemplo, paga sua folha milionária para enfrentar clubes que não estão sequer na Quarta Divisão do futebol brasileiro. Não faço aqui uma crítica aos tradicionais times do interior, mas chega a ser surreal essa disparidade. Sem contar os problemas enfrentados pelos pequenos, que basicamente só jogam de maneira profissional durante esse período.
A tortura fica nítida quando o departamento médico dos clubes se enche com problemas musculares. O excesso de jogos força os atletas, que acabam tendo lesões. E quando não acontece o problema médico, há queda no nível técnico pelo desgaste.
Assim, fica impossível não pensar em outros países, como Inglaterra, Alemanha ou Espanha. A Premier League, aclamada como a maior do mundo, distribui-se em nove meses. As fases iniciais das Copas (Inglaterra e da Liga) são feitas em partidas eliminatórias únicas, sendo que os grandes, principalmente aqueles que disputam a Liga dos Campeões, entram com mistos nos torneios menores. Por lá, o foco sempre é a liga doméstica.
Já a Bundesliga tem 18 clubes e ainda se dá ao luxo de ter um recesso de inverno, que acontece entre o Natal e o mês de janeiro. Na Espanha, Real Madrid e Barcelona jogam com seus times reservas na Copa do Rei até o momento em que se enfrentam, mostrando que há um claro objetivo na temporada.
No Brasil, futebol é sinônimo de quantidade, não importa o nível técnico. O exemplo é a Primeira Liga, que virou um torneio-fantasma em meio ao caos. A prioridade sempre é completar a grade das TVs, deixando estádios vazios e espetáculos cada vez piores. Os clubes precisam dar o grito ou priorizar o que lhes convém. Há que se tomarem decisões difíceis.
Será que tentar o título da Copa do Brasil faz sentido em detrimento físico e técnico no Brasileirão e na Libertadores? Cada clube terá que tentar adequar-se a sua realidade, já que, juntos, eles mal conseguem definir um calendário.