Mariana é o passado presente. Manaus é o urgente impossível.

Cabeças, braços, bacias de sangue descendo pelas paredes do rio que não se enxerga em mais nenhum horizonte adiante.

Manchete fixa do DiCaprio de Trancoso até o BuzzFeed descobrir a nova Grávida de Taubaté.

Um juiz federal ameaçado de morte por tatear a dignidade num raro gesto humano. O Estado até de espírito é absolutamente ilegítimo.

Compaixão: nunca vi, senti ou entendi na prática.

Justiça agora é uma página da Bíblia reescrita por algum Hitler do século XXI. É uma caixa de comentários de um portal de notícias libertando a alma de um homem capaz de matar a ex-mulher, o filho e mais dez pessoas por misoginia, machismo, o pau ereto até o próprio umbigo.

São as páginas de jornais legitimando sua carta póstuma sem qualquer intervenção. Empatia: só conheço através da teoria.

Istambul e Síria engrossam o rio vermelho de sangue na capa de todos os Facebooks. Se a Europa explodir, respinga na gente?

Não vale a pena nem especular. É ressaca de tudo-novo-de-novo, réveillon de meter o louco correndo solto. 7 de janeiro e hoje ainda só existe à base de sedativo. Uma coleção de desgostos que passa batido.

Estava ali, jogada na rua, a mulher incendiada por ser, estar, permanecer por suas próprias escolhas. Ninguém se revoltou.

Faz calor demais para se emocionar. Aliás, faz muito tempo que o sol de janeiro não bate tão penoso e visceral, impedindo a gente até de chorar.

O Inferno de Dante é um parque de diversões. Agora, no Brasil, o verão tem sabor de fome e sangue temperados com opressões preparadas em fogo alto, em nome de Deus. Já chegamos ao ponto em que se chega ao ponto. E agora?

O horror veste bem a capa real de natural.

Na ponta do cassetete de dois seguranças de uma igreja evangélica espancando um mendigo em Porto Alegre.

À toa, de graça, porque o porquê não importa mais diante a histeria coletiva de se proteger sabe-se lá o quê.

Hoje em dia tem sido como gritar “Socorro” para o Itamar Assumpção e ouvir o silêncio respondendo do outro lado que ninguém está sentindo realmente nada.