A CPI da pandemia chegou ao capítulo final da primeira temporada com fortes emoções, guardando espaço para uma segunda que promete um enredo de tirar o fôlego e pontos da popularidade de Bolsonaro, como vimos nos últimos três meses. Fato é que as investigações, que começaram por uma linha, acabaram chegando a lugar inesperado, provando a máxima que diz: “todos sabem como começa uma CPI, mas ninguém sabe como termina”.
As investigações começaram direcionadas nas omissões do governo e conseguiu provar que Bolsonaro realmente havia montado um grupo de assessoramento paralelo ao Ministério da Saúde que o orientava em sentido contrário aos modelos científicos. Isto levou ao desgaste de Henrique Mandetta e Nelson Teich, que deixaram a pasta quando confrontados com as crenças bolsonaristas.</CW>
A chegada dos militares mudou o cenário, fazendo com que a pasta obedecesse cegamente aos dogmas emanados do Planalto. A imunidade de rebanho tornou-se a política mais importante de combate ao vírus, impulsionada pelo uso da cloroquina. A produção e consumo de medicamentos comprovadamente ineficazes para combater o vírus passaram a ser estimuladas e financiadas pelo governo. O Brasil entrava em voo cego dentro do período mais agudo da pandemia.
A crença do gabinete paralelo, que se tornou oficial, direcionou o Ministério da Saúde a ignorar oferta de vacinas, como foi o caso da Pfizer, e desprezar os esforços de produção local da Coronavac pelo Butantan, certos de que a imunidade de rebanho seria a prática mais eficaz. Bolsonaro incentivou aglomerações, ignorou o uso de máscaras e políticas de distanciamento social adotadas por todo o mundo. A imunidade de rebanho seguia sendo a crença presidencial mais firme e objetiva.
Com o governo de São Paulo vacinando com a Coronavac, entrou em cena o receio do governo federal em ser responsabilizado por omissão diante de centenas de milhares de mortes. Assim entraram em cena as gangues de vendas de vacinas inexistentes. Bandos criminosos com acesso (que laboratórios renomados jamais tiveram) ao Ministério da Saúde. Cabos da PM, empresas de fachada, reverendos. Havia espaço para qualquer jogada. Começava a corrida desorganizada pelas vacinas.
Neste ponto, a CPI toma um novo rumo, com as denúncias de conluio na compra da Covaxin, pedidos de propina para adquirir AstraZeneca, Pfizer e Janssen por empresas suspeitas e até protocolo de intenções para compra de Coronavac por intermediadores. Tudo mambembe e amador, para não dizer altamente suspeito e bizarro. O atalho do governo para adquirir vacinas depois de ignorar os laboratórios tornou-se um show de trapalhadas, erros e possíveis crimes.
Se, na primeira temporada, a CPI conseguiu provar que a crença do governo em uma suposta imunidade de rebanho resultou em um combate ineficaz e macabro da pandemia, a prévia da segunda temporada mostra que a chegada de atravessadores no modelo de compras de vacinas e possíveis esquemas de corrupção tornaram a situação cada vez mais tensa. Considerando que fatos novos joguem luz sobre o inacreditável, o que não é nada improvável, o saldo parcial até aqui é preocupante para Bolsonaro. A conferir.