A consolidação nos últimos 22 anos do SUS, com sua generosa proposta de acesso universal e integral de qualidade, é uma das mais importantes heranças da Constituição de 1988. Avançamos muito, mas estamos distantes ainda do sistema público de saúde de nossos sonhos.


Cinco nos parecem ser os desafios dos próximos anos:


A mudança do modelo de atenção: ainda somos presididos por uma lógica predominantemente hospitalocêntrica. A oferta de serviços de saúde ainda se apresenta diante da população de forma fragmentada e desarticulada. O objetivo deve ser a construção de redes de assistência integral coordenadas por uma atenção primária à saúde extremamente qualificada. É fundamental que hospitais, UPAs, centros de especialidades, centros de diagnóstico formem um todo coerente e articulado, orquestrado pela estratégia de saúde da família cada vez mais fortalecida.


A mudança do modelo de financiamento: é impossível garantir o direito constitucional com pouco mais de R$ 700 habitante/ano de investimento. A comparação com outros países e com a saúde complementar evidencia um forte subfinanciamento. Não há mágica. O SUS precisa de muito mais dinheiro. O gargalo central do SUS é financeiro. Sabemos que há uma grande resistência à criação de novos impostos. Nossa carga tributária é pesada. Cabe ao governo federal e ao Congresso Nacional descobrirem alternativas.


A mudança no modelo de gestão: se é verdade que o dinheiro é curto, é também verdade que é possível fazer mais e melhor com cada real. Profissionalizar a gestão, incorporar modernas ferramentas de gerenciamento, clarear o pacto federativo setorial, inovar nas estruturas, introduzir ganhos de escala podem permitir avanços a partir do aumento da produtividade dos recursos.


A mudança do modelo de incorporação tecnológica: diariamente, são descobertos novos medicamentos, novas linhas terapêuticas, novos e sofisticados equipamentos hospitalares. São avanços importantes, mas também mais caros. Sem a preocupação de restringir o acesso, mas consciente de que não podemos ter uma postura passiva e ingênua diante de tão poderoso mercado, o SUS precisa solidificar uma forte regulação sobre a introdução de novas tecnologias.


A mudança do modelo de organização do mercado de trabalho: aspecto central, em que a capacidade de indução dos gestores tem limites claros, mas que precisa avançar. Como estimular os médicos a procurarem a especialização em saúde da família, pediatria, clínica geral e geriatria? Como fixar profissionais especializados na Amazônia, no Nordeste, no Jequitinhonha?


Todas as pesquisas de opinião apontam a saúde como prioridade da população. "O SUS não é um problema sem solução, é uma solução com problemas". Cabe discutir essa agenda de desafios e garantir novos avanços para que a chama da reforma sanitária de 1988 não se apague.