Oswaldo Dehon

Biden e sua running mate democrata

O papel do vice nos EUA e cinco prováveis candidatas ao cargo

Por Oswaldo Dehon
Publicado em 27 de maio de 2020 | 03:00
 
 

Os democratas e Joe Biden, em breve, decidirão quem compõe a chapa para a Vice-presidência. Há muitas indicações e uma certeza: será uma mulher. Afinal, a política é substantivo feminino. Mas quais são as prerrogativas do vice-presidente, qual sua importância e quem assume o favoritismo entre as candidatas?

Na história das eleições norte-americanas, o cargo de vice-presidente nem sempre foi objeto de disputa. A Constituição falava que o candidato que obtivesse a menor quantidade de votos, dentre os dois mais votados no colégio eleitoral, seria o vice-presidente. No caso de empate entre os concorrentes, o Senado elegia. A 12ª Emenda (1804) mudou a regra. A partir dela, o vice passou a ser eleito com o maior número de votos para o cargo, obtida a maioria dentre os eleitores. Sem a maioria, o Senado tomaria a decisão, sob quórum de dois terços.

Presidente e vice poderiam ser eleitos por partidos diferentes, até o assassinato do presidente Lincoln, em 1865. Seu vice, Andrew Johnson, democrata, assumiu e alterou a orientação do governo republicano de Lincoln. A partir de então, há a montagem de uma chapa, com os chamados running mate, candidatos a vice-presidente como companheiros de eleição.

O papel do vice é suceder o presidente em caso de morte, impedimento, renúncia ou inabilidade. Mas o vice também compõe o Legislativo, pois é o presidente do Senado Federal, com poder de voto em caso de empate. Vices já desempenharam papéis de destaque, como Al Gore e Dick Cheney, mas, como regra, são discretos.

Biden escolherá uma mulher como running mate. Prometeu em março, durante debate com Sanders. Mas quais seriam as favoritas? Há mais de uma dezena de indicações. Avaliarei as cinco mais prováveis.

Usando a ordem alfabética, a primeira é Amy Klobuchar, senadora de Minnesota. Possui a vantagem de representar um Estado do Rust Belt e do Meio-Oeste, essenciais para a vitória. Caso seja escolhida agrega à campanha sua competência oratória e postura de centro. Como o Estado possui um governador democrata, haveria a indicação de um senador do mesmo partido, até as eleições, não alterando o delicado equilíbrio do Senado. Amy não é exatamente popular entre identitários, mas possui virtudes que fazem dela uma das favoritas.

Catherine Cortez Masto é senadora por Nevada, foi procuradora geral do Estado e a primeira senadora latina eleita pelos EUA. Biden está sendo amplamente pressionado a contemplar o voto latino. Por volta de 25% dos delegados à convenção presidencial serão escolhidos pelos eleitores latinos, segundo pesquisas recentes.

Elizabeth Warren, senadora de Massachussets, disputou as primárias democratas. Atraiu muita atenção com sua campanha progressista, dada sua expertise em assuntos jurídicos, sua competência emocional e seu desempenho nos debates. Foi professora de Harvard e participou do governo Obama. Sua fragilidade estaria na distância de suas ideias em relação às de Biden. É favorita, sob critério de popularidade e inclusão de democratas jovens e progressistas. Mas o governador do Estado é republicano e poderia indicar seu substituto.

Gretchen Whitmer é governadora de Michigan, swing state central na estratégia democrata. Tomou posse em 2019, mas tem enfrentado o presidente Trump em relação à pandemia, o que tem gerado destaque.

Kamala Harris também concorreu à indicação democrata. É senadora pela Califórnia. Foi amiga do filho falecido de Biden, Beau, ambos procuradores gerais. Não teria o problema da indicação do substituto. É negra e admirada pela equipe mais próxima de Biden, de quem se tornou ativista.

Há outras indicações, com destaque para Stacey Abrahams, da Carolina do Norte; Michelle Grisham, governadora latina do Novo México; Val Demings, congressista da Flórida; e Tammy Duckworth, senadora por Illinois.

Racional e estrategicamente, a escolha de Biden tende a ser Amy Klobuchar. Afetivamente, pensando no futuro democrata e no voto negro, Kamala. São as favoritas. Podem surpreender Warren e Whitmer.

Oswaldo Dehon é cientista político, doutor em relações internacionais e professor do Ibmec BH