Observatório das Américas

Com Biden, chega ao fim o longo conflito dos EUA no Afeganistão

Guerra mobilizou políticas de quatro diferentes presidentes

Por Christopher Mendonça
Publicado em 05 de maio de 2021 | 03:00
 
 

Na madrugada de 2 de abril de 2011, em uma cidade do noroeste do Paquistão, cumpria-se um dos principais objetivos do serviço de inteligência dos EUA: a captura do líder extremista islâmico Osama Bin Laden. Ao longo de quase uma década de buscas pelo principal responsável pelos ataques que atingiram alvos estratégicos em solo norte-americano, muita coisa aconteceu.

Desde que a organização terrorista Al-Qaeda assumiu a responsabilidade pelo maior atentado violento aos Estados Unidos, a nação mais poderosa do mundo se lançou em uma tarefa de fazer justiça às vítimas daquela ocasião, reforçando a sua liderança e capacidade militar na ordem internacional inaugurada com o fim da Guerra Fria. O presidente de turno, o republicano George W. Bush, desempenhou um papel de “protetor da nação” e investiu toda a sua força em uma invasão ao Afeganistão que começou em 2011, com a anuência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

Ao cumprir o seu segundo mandato presidencial, George W. Bush legou ao seu sucessor o peso da guerra. Além da incursão no Afeganistão, os Estados Unidos haviam iniciado, também, uma ação no Iraque justificada pela necessidade de manutenção da paz e da ordem internacional. Quando o presidente Barack Obama assumiu a Casa Branca, em 2009, um volume financeiro de grandes proporções já havia sido empenhado nas guerras, e uma das promessas de campanha do democrata pautava-se na necessidade de revisão da presença norte-americana nessas localidades.

A ação dos Estados Unidos no Afeganistão alterou consideravelmente o desenho institucional do país e custou mais de US$ 2 trilhões aos cofres daquela nação, de acordo com dados publicados pela Universidade de Brown. Embora não tenha conseguido finalizar a ação dos Estados Unidos no Afeganistão, o presidente Obama desestabilizou as redes terroristas da região, a partir do assassinato de seus principais líderes, inclusive, do mais procurado deles, o saudita Bin Laden.

Ao longo do mandato presidencial de Donald Trump, iniciado em 2017, os debates sobre a retirada dos contingentes norte-americanos do território afegão mantiveram-se ativos. Um acordo firmado entre Trump e os principais líderes do Taleban definia que até o dia 1º de maio do presente ano não haveria mais tropas alocadas na região, o que não foi cumprido pela Casa Branca e gerou insatisfação por parte dos acordantes.

Ao assumir o governo, há pouco mais de três meses, o presidente democrata Joe Biden, que foi vice-presidente da República nos mandatos de Obama, retomou o ideal de retorno das tropas norte-americanas. Em pronunciamento recente, Biden defendeu que a captura de Bin Laden foi o ponto mais alto do objetivo do país no combate ao terrorismo internacional. Além de criticar a durabilidade da ação – quase duas décadas – o novo presidente considera que o terrorismo tenha mudado a sua identidade, não sendo um fenômeno localizado, e sim uma rede de fenômenos que se identifica de formas distintas no cenário internacional e precisa ser combatido de novas formas.

A confirmação oficial do fim da Guerra no Afeganistão se deu por meio de comunicado presidencial publicado em parceria com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que definiu o retorno de um contingente militar de cerca de 3.000 oficiais dos EUA remanescentes na região e de mais de 7.000 soldados sob ordens da Otan em um prazo que se encerra na simbólica data de 11 de setembro de 2021.