Observatorio das Americas

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O impacto da nova variante na economia internacional

Publicado em: Qua, 01/12/21 - 03h00

A descoberta de uma nova variante do coronavírus na África do Sul deixou os mercados internacionais e governos em estado de alerta desde a semana passada. O cenário até então era de recuperação econômica, principalmente da economia americana, porém as últimas notícias desencadeiam novos contornos à política e à economia para 2022. 
Segundo a sinalização do Banco Central americano, a nova variante irá condicionar os investimentos e estímulos monetários internacionais a um regime mais cauteloso, principalmente diante das incertezas que se renovaram nos últimos dias. 

A pandemia estimulou um fenômeno de inflação global desencadeado, principalmente, pelo aumento do preço dos combustíveis (que até antes de 2020 estavam historicamente baixos), impactando amplamente os custos das cadeias produtivas mundiais. Ainda quanto aos efeitos econômicos, a crise sanitária afeta diretamente a circulação de pessoas e de mercadorias no comércio global. Dessa forma, os fluxos de produção que até 2020 funcionavam com um certo afinamento, foram completamente desorganizados nos últimos dois anos. 

A expectativa de reorganização dos mercados internacionais em 2022 está abalada, porém os sinais de cautela não indicam, necessariamente, que encontraremos um futuro catastrófico nos próximos meses. Diferentemente da realidade no começo da pandemia, as pesquisas já avançaram quanto ao conhecimento do vírus e a resposta do mercado de vacinas pode ser relativamente rápida. Segundo os especialistas uma nova vacina pode ser desenvolvida nos próximos três meses. 

As cadeias locais também tendem a continuar ganhando relevância, devido às dificuldades de ampliar as distâncias da cooperação econômica no mercado internacional. Um exemplo elucidativo para os efeitos desse fenômeno, causado principalmente pelo fato de a Covid-19 ser um problema de escala global, está na surpreendente inflação de carros usados devido à desorganização da cadeia produtiva de carros zero-quilômetro. Essa quebra no fluxo de produção, que é internacionalmente conectada, impacta diretamente o acesso aos recursos necessários para suprir as demandas e dar continuidade à retomada dos níveis de produção pré-pandemia. 

Apesar de a nova variante indicar o começo de uma quarta onda, principalmente nos países europeus, é importante considerar que as respostas políticas são diversas e dependem também dos fatores locais. No Brasil, a equipe econômica tenta avaliar qual será o tamanho do impacto da variante ômicron. Contudo, a prioridade da política doméstica (tanto do Executivo quanto do Legislativo) provavelmente continuará concentrada na discussão prévia sobre à PEC dos Precatórios – que abre espaço no teto de gastos para o pagamento de R$ 400 pelo Auxílio Brasil – e na adequação do Orçamento para 2022 que tenta conciliar o desejo do Executivo com os pedidos de ajustes do Legislativo. Caso haja alguma mudança quanto ao sistema de vacinação, o orçamento terá que dar conta de novos custos.

Por enquanto, até que saibamos o real impacto da gravidade da nova variante, e se as vacinas terão capacidade de conter o alto grau de infecciosidade do ômicron, os mercados continuarão cautelosos e a política atuará para tentar atenuar os efeitos imediatos do cenário de incerteza que está se formando para o ano que vem.

 

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