OTÁVIO GROSSI

Nossas janelas para olhar a vida

'Tudo o que é validado pelos grupos de que fazemos parte vão nos atravessando e atualizando esses ''aplicativos''

Por Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 

Durante nossa vida, vamos aprendendo a olhar as coisas, as relações, o mundo e a nós mesmos, intermediados por tudo o que nos rodeia. Vamos compondo percepções, respostas, reações e crenças. Essas são como que os programas que “baixamos” em nossos cérebros.

São os “downloads” que fazemos pela vida. Nossa visão de família, de pai, de mãe, de amigos, de homens e mulheres, de moral e ética. Tudo o que é validado pelos grupos de que fazemos parte vão nos atravessando e atualizando esses “aplicativos”. O desafio é “atualizarmos” sempre suas versões. Pois tudo na vida se transforma, se aprimora, muda de fase, se desestabiliza e se equilibra novamente. 

Nossa forma de olhar será condicionante para as respostas que daremos. Crenças limitantes nos prendem, como o próprio conceito evoca: limitam e prendem a visões. Nossa mente registra daquela forma e demanda esforço para a evolução. Sempre ouvi falar de algumas crenças limitantes: não sei, não posso, sou velho e não tenho recursos. 

Se você colocar na sua cabeça que não pode uma coisa, fim de papo. Mas eu não seria tão ingênuo em afirmar que o contrário é simples: ou seja, pensar que posso significa que alcanço! Entretanto, o que me chama a atenção é quanto ao poder do não! Se, no caso de pensar que posso, terei que considerar a possível impossibilidade, ainda assim é um avanço: tenho 50% pela frente. Já na forma de acreditar que não posso, o resultado é apenas um: não avançar! 

A compreensão do envelhecer é outra crença curiosa. Os desafios da maturidade são comuns, mas não normais. Podemos ser aqueles que se preparam para ajustarmos as dores. Porém, há uma visão massificadora de empreendedorismo, no sentido de que “você deve conseguir”, “você deve ser um empreendedor”, e se você não consegue é porque não tentou –, em um Brasil pós-pandêmico e com tantos desafios aos menos favorecidos, é um pensamento equivocado julgar que se você não tem recursos é porque não empreendeu. Não mesmo! 

A questão é muito mais ampla. Depende de um cenário político, econômico, social, cultural, de saúde, de segurança, que é responsabilidade de muitos que apenas se beneficiam. 

Olhar nossas janelas na vida é ampliar as conexões. É abrir interconexões, é considerar cenários e, aí sim, construir uma visão de si mesmo e das coisas mais próxima do real. É o real que comanda a vida, não o imaginário ou o simbólico. Olhe-se através das visões que você tem de si mesmo, alinhada as visões que o outro tem de você. Saiba que você também olha a si mesmo, e o outro pode não acessar essa ideia.

Mas também considere a possibilidade de buscar uma visão de si mesmo que nem você nem os outros podem ver. Isso significa que o nosso inconsciente também dita normas, interfere nos downloads e nos sistemas. Pergunte mais aos outros, desconfie dos pensamentos seus. Nossa mente costuma mentir também! Compor uma visão de si mesmo é uma aventura que resulta em realização, felicidade e performance! 

  

*Otávio Grossi é filosofo, mestre em psicologia, psicopedagogo de autistas, mentor de empresários e escritor do livro “Conquistas Autênticas”, da editora Candido. É colunista do jornal O TEMPO e participante do programa Interess@, às segundas-feiras, na rádio Super 91,7 FM.