Alguns anos atrás, estive no Rio de Janeiro e fiquei hospedada no apartamento de um amigo, em Copacabana. A minha primeira reação foi elogiar o prédio, tão antigo e conservado. Se eu soubesse o que viria a seguir, teria ficado calada.
Um vizinho do meu amigo, ao notar meu encantamento, resolveu contar a história do tal apartamento. Segundo ele, os primeiros donos moraram lá ainda na época da escravidão. Para chamar os escravos, utilizavam uma espécie de campainha instalada no chão da sala de jantar, que - como pude constatar - ainda estava lá, intacta. Tudo certo até aí. O problema veio a seguir: "Eu não queria te contar, Paula, mas no meio da noite, se você ouvir uma campainha ou pessoas conversando, não repare. É normal, são os tais escravos que aqui viviam e que voltam pra matar a saudade". Pronto. Sei que o menino falou de brincadeira, mas ele não sabia com quem estava brincando.
Quando eu tinha 11 anos, assisti a um filme que mudou minha vida para sempre: "Não Adormeça". Nesse filme, três irmãos viajavam de carro com os pais. Os dois mais novos resolvem pregar uma peça na irmã e amarram os cadarços dos seus sapatos um no outro.
Ocorre um acidente, a menina - por causa dos sapatos amarrados - não consegue sair do carro e morre queimada. Trágico até aí. Tenebroso logo depois... Ela volta e começa a assombrar os irmãos.
Eu, que sempre tinha entendido que ao morrer a pessoa ia para o céu e ficava lá pra sempre, fiquei assustadíssima com essa possibilidade de um espírito vir me visitar, ainda mais no meio da madrugada, e realmente não adormeci. Nem naquela noite, nem nas próximas. Passei meses dormindo no quarto dos meus pais e nunca mais me recuperei. Volta e meia, ao ouvir histórias de fantasmas, me recuso a dormir sozinha. Sou medrosa mesmo. Assumida. Meu consolo é que não sou só eu.
Tenho várias tias que para não ficarem impressionadas, saem de qualquer local onde a conversa tenha esse tema. Uma amiga, que estava no Rio comigo, também se amedrontou com a tal história dos escravos e não conseguiu mais nem ir ao banheiro sozinha. Minha prima conta que um dia acordou e viu um menininho aos pés da cama sorrindo para ela... gritou tanto que acordou a vizinhança inteira. E eu tinha uma professora particular que me contou que a melhor coisa do casamento é não ter mais que dormir sem companhia, pois ela morria de medo do escuro.
Por que esse tema assusta tanta gente? Acho que é normal ter receio do desconhecido, mas por que então eu não tenho medo de "discos-voadores"? Ou do "bicho-papão"? Do "homem do saco"? Também os conheço só de ouvir falar e nem por isso tenho pesadelos a cada vez que alguém conta a história que ouviu da tia da irmã da avó do namorado de alguém...
Acho que a culpa toda desse medo de fantasmas está exatamente nos filmes de suspense. O roteiro deles já é escrito com o intuito de causar o maior pânico possível na plateia, de arrancar gritos, de provocar arrepios. Eles colocam ideias que nunca passariam pela cabeça da gente, como, por exemplo, a possibilidade de eu estar escrevendo essa crônica no sonho de alguém e não ter consciência disso... O pior de tudo é que eu acho que eu tenho um lado bastante masoquista, pois apesar de saber que não prego os olhos à noite após um filme desses, não consigo deixar de assistir. O engraçado é que esse temor nunca se manifesta à luz do sol. Basta o dia amanhecer e o medo se esvai com a escuridão. Mais engraçado ainda é eu pensar que os tais fantasminhas só resolveriam aparecer para mim em um momento solitário. Tudo absorvido dos filmes. Neles, nunca vi duas pessoas serem assombradas ao mesmo tempo. Nem durante o dia. Aí está a prova de como os filmes nos influenciam.
Ao ver um filme de amor, sempre saio do cinema desejando que a vida imite a arte. Tenho plena consciência de que aquele enredo só acontece mesmo nas telas. Por que, então, ao sair de um filme de terror eu não acredito que aquilo tudo também é só ficção? O que sei é que, enquanto existirem filmes e histórias horripilantes, continuarei passando as noites em claro. Ou correndo para o quarto da minha mãe. Acho que o melhor é seguir o conselho da minha antiga professora: Arrumar uma companhia constante para dividir a cama comigo. Aposto que assim meu medo de fantasmas sumiria de vez. E o filme de suspense terminaria com um final feliz.