Há alguns dias revi um dos meus filmes preferidos. Ele marcou uma época da minha vida e até hoje me faz pensar: “Click”. O filme conta a história de um homem que compra um controle remoto universal para operar todos os seus equipamentos eletrônicos, mas o aparelho acaba saindo melhor do que a encomenda. Além de comandar a televisão e o micro-ondas, ele tem o poder de rebobinar certas cenas da vida e até de passar para o próximo capítulo sem ter que viver, por exemplo, situações chatas. Acontece que, nessas viagens ao futuro, ele descobre que as escolhas que fez não o levaram a destinos muito felizes, e ele passa a questionar o próprio passado.
Por coincidência, tenho conversado muito sobre um assunto similar: a possível existência de universos paralelos, nos quais teríamos vários desdobramentos da nossa vida, várias possibilidades para a nossa existência. Por exemplo: você sai de casa em um dia comum e resolve não ir pelo caminho de sempre, e sim por outro que você acha que pode estar com menos trânsito. No meio desse novo percurso, um motoqueiro entra na sua frente, você o atropela e fica com trauma de dirigir pelo resto da vida. Se tivesse ido pelas ruas usuais, provavelmente nada teria se passado, ou talvez tivesse acontecido outra coisa, como um pneu furado ou uma passeata parando o trânsito, que te levaria a outras situações.

Já assisti a outros três filmes que tratam do mesmo tema: “Efeito Borboleta”, “Quem Somos Nós” e “De Caso com o Acaso”. Todos eles mostram as possibilidades que temos e os futuros que deixamos para trás em prol do presente em que vivemos.

Também já li um livro que trata do mesmo tópico: “Um”, de Richard Bach. Logo no início, os protagonistas se encontram com as pessoas que eles foram um dia e tentam alertá-las para fatos que elas podem evitar, atalhos que devem tomar. Acontece que, pelo simples fato de terem feito isso, já mudaram o destino dessas pessoas, levando-as para um futuro diferente daquele em que estão os protagonistas que voltaram.

É um assunto muito complexo, mas muito instigante. Por diversas vezes me pego pensando onde eu estaria se eu tivesse feito outras escolhas, se tivesse entrado em outras ruas, se tivesse me atrasado cinco minutos. Fico pensando se em alguma dimensão paralela existe uma Paula veterinária, que é a profissão que até hoje acho que eu deveria ter escolhido. Mas, se eu fosse veterinária, será que estaria escrevendo esta crônica neste momento? Provavelmente não, e isso seria uma pena, porque realmente adoro escrever.

Muitos fatos relevantes da nossa vida acontecem quando estamos distraídos, e só notamos a importância deles muito tempo depois. O que seria de mim se eu não tivesse batido o carro naquela manhã? Teria chegado antes na aula, ou a batida impediu algo pior? Onde eu estaria se tivesse resolvido não voltar da Inglaterra alguns anos atrás? Provavelmente ainda lá, mas com certeza bem menos feliz do que estou agora. E se naquele jogo da Copa eu não tivesse voltado para a casa do meu amigo, e sim ido a um restaurante japonês, como a minha prima sugeriu? Com certeza o meu mundo estaria diferente, e eu nem gosto de pensar nessa possibilidade, porque, por causa daquele dia, eu estou exatamente como (e com quem) eu gostaria de estar neste momento...

Cada uma das nossas atitudes nos leva a milhões de alternativas diferentes. O que teria acontecido se, em vez de ficar escrevendo estes pensamentos até 2h da manhã, eu tivesse dormido cedo para curar minha gripe, como minha mãe me orientou? Provavelmente eu não acordaria com dor de garganta, mas você não estaria lendo esta crônica agora. E este assunto não ficaria na sua cabeça, e sim um outro, que te levaria a outras conversas entre as várias que você terá hoje. Ou seja, eu acabo de mudar o seu destino. E você, daqui a pouco, ao falar com alguém, também mudará o destino dessa pessoa, e assim vamos, pela vida afora, trilhando essa imensidão de percursos que a vida nos oferece, fazendo escolhas e deixando possibilidades pra trás. Realmente, dá vontade de ter um controle remoto, passar o nosso filme pra frente e ver se essas decisões de hoje resultarão em um final feliz. Eu espero que sim.