Paulo César de Oliveira

A falta de um líder

Nuvem do autoritarismo paira sobre a política brasileira

Por Da Redação
Publicado em 08 de setembro de 2020 | 03:00
 
 

Há uma preocupante nuvem de autoritarismo na política brasileira. Atos, como os do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, criando uma milícia especial para patrulhar a imprensa e o povo, cerceando o direito de cobrança de qualidade no serviço público, mostram o total desrespeito pelas regras da convivência democrática.

O prefeito é apenas uma das centenas de exemplos dessa abominável prática de uso do dinheiro público para práticas antidemocráticas. Tão grave quanto a prática desses atos é o silêncio da sociedade que, parece, perdeu a capacidade de se indignar e aceita passivamente o comportamento despótico de algumas de nossas chamadas autoridades.

Aonde vamos parar é a questão que começa a incomodar a camada da sociedade que ainda não se deixou contaminar. A dúvida tem razão de ser. Difícil de se encontrar em nossa história um ambiente político tão degradado.

Para usar uma expressão bem ao gosto dos velhos políticos mineiros, vivemos uma fase de “vaca estranhando bezerro”, em que não se sabem bem os limites do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Enfim quem é quem na vida brasileira.

Que me perdoem os poucos que se salvam, mas a safra política é de baixa qualidade, o que acaba refletindo em todas as atividades da vida nacional. Queremos e precisamos ser otimistas, mas o horizonte não é dos mais favoráveis.

Nada do que esperávamos acontecer após 2018, tem se concretizado. O balcão de negócios, que prometeram fechar, está ativo como poucas vezes se viu. O Executivo subiu no palanque, se dobrou ao Legislativo, e o velho “toma lá, dá cá” está escancarado e com uma força incomum, o que nos dá a certeza de que as reformas não passarão de remendos, de projetos para o futuro, como definidas por alguns especialistas. O Judiciário faz a sua festa e age – novamente recorro a uma expressão popular – como “pinto no lixo”, deixando sem norte os que clamam por segurança jurídica.

Afinal, quem governa, ficamos a perguntar. E esse ambiente é o ideal para florescer a flor do pântano, o autoritarismo, que entre nós vem atrelado ao fanatismo religioso. Essa é uma mistura perigosa no ambiente político, ainda mais quando fomentada pelo uso criminoso das redes sociais, usadas com maestria por grupos interessados em disseminar o ódio.

Pode parecer que aqui se está pintando um quadro de horror. Não, essa é, infelizmente, a realidade visível que tem um horizonte de expansão por causa da crise econômica que não foi causada, mas apenas agravada pela crise sanitária, a pandemia da Covid-19. As crises econômicas são terrenos férteis para o surgimento dos messias, os que têm solução para tudo que se cercam de fanáticos agressivos que não têm limites em seus atos. É um quadro que começa a se desenhar no país e que, torço para que não, tem tudo para se agravar com a disputa eleitoral deste ano, que desenhará a correlação de forças para a disputa de 2022.

A muitos vai parecer pessimismo de quem, há mais de 50 anos, acompanha a vida política brasileira. Não, não é pessimismo, é realismo. Já vivemos situações semelhantes. A sociedade brasileira conhece de sobra as consequências de suas omissões. E precisa assumir o protagonismo de sua história. Sem radicalismos.