Chegamos ao pico. Se ainda não chegamos, estamos bem próximos dele, mas já começamos a colocar os pés descalços na descida. Descalços, sim, pois não cuidamos de formular uma estratégia para a efetiva retomada da vida. Falamos poeticamente num “novo normal” pós-pandemia, mas na prática nem imaginamos como será isso. Vamos, como sempre fomos, pegar o declive sem saber como ele será e, pior, sem freios confiáveis.

Os freios seriam o comprometimento da sociedade com as medidas sanitárias e o respeito a normas traçadas a partir de parâmetros científicos para o controle da disseminação do vírus. Mas o que se vê aqui, no Brasil, e, para ser justo, na maioria dos países afetados pela Covid-19, é a população com um comportamento rebelde, de desrespeito aos protocolos, colocando em risco os que atravessam seu caminho e até mesmo suas famílias. E que não venham dizer que são os mais jovens e os de menor cultura os responsáveis por esse tipo de comportamento que coloca em risco toda uma estratégia de combate à pandemia.

Quando se vê um cidadão agredir motorista de ônibus que cobrou dele o uso da máscara, um desembargador humilhar um agente da Guarda Municipal, rasgar e atirar ao chão a multa que recebeu por se recusar a usar máscara e, no pico, um presidente da República se recusar a usar máscara e ainda se transformar em garoto-propaganda de um medicamento comprovadamente ineficaz, precisamos nos conscientizar de que teremos uma curva declinante acidentada.

Precisamos nos preparar para descermos aos trambolhões. Isso, se não tivermos retrocessos. É esse comportamento irresponsável com a saúde diante da doença que, infelizmente, tem causado tantos transtornos para a economia. Acredito – mais do que isso, reconheço – que os empresários estão sinceramente empenhados em cumprir os protocolos sanitários para poderem retomar suas atividades. Afinal, eles dependem disso. Não são eles o problema.

A dificuldade está em conter os irresponsáveis que se recusam a cumprir as regras, que, em pleno século XXI, acreditam que apenas a proteção divina é capaz de evitar o contágio e se julgam ungidos, por isso dispensados de seguir as regras. Bem, aos trambolhões ou suavemente, estamos iniciando, ou prestes a iniciar, a descida, ou a curva descendente. Quem tem responsabilidade e bom senso, sabe que lá embaixo nos espera um mundo novo, para o qual estamos, infelizmente, inteiramente despreparados. Nossas autoridades, novamente, e infelizmente, não cumpriram o seu papel e o Brasil, por mais que neguem os ufanistas e os oportunistas, está inteiramente despreparado para enfrentar o romântico “novo normal”. Ou você, caro leitor, conhece algum plano secreto para colocar o país nos trilhos do crescimento econômico, de onde saltamos faz muito tempo?

Se estamos atrasados, se não temos um plano a seguir, isso não pode nos paralisar. É preciso que a sociedade assuma a sua responsabilidade no processo e aja. A crítica aos políticos não pode continuar sendo a nossa única postura diante da crise. As velhas soluções não bastam. Precisamos descobrir e implantar novos soluções para velhos e novos problemas, que ainda nem sabemos quais são. E é para já. Aliás, é para ontem. Aja, interaja. Na busca de soluções, o seu pior concorrente pode ser o principal aliado.