PAULO CESAR DE OLIVEIRA

Freud explica Bolsonaro

Brigas podem esconder pretextos

Por Da Redação
Publicado em 02 de abril de 2019 | 03:00
 
 
Mais da metade dos entrevistados vê o governo Bolsonaro como melhor em relação a Temer Marcelo Camargo/Agência Brasil

Não é bom tratarmos com desprezo, ou análises simplistas, o comportamento político do presidente Bolsonaro e de seu grupo, notadamente o núcleo familiar, nos três primeiros meses de governo. Podem estar executando uma bem-urdida trama política que os leve – talvez não o país – ao paraíso. Podem estar tramando um estado tal de governabilidade que permitirá ao Brasil realizar todas as mudanças dentro de uma nova política sem os empecilhos dos não patriotas que querem impedir a pátria amada Brasil de atingir seu inexorável destino de grande nação.

Se não for essa a hipótese, melhor será pesquisarmos a literatura para, quem sabe, encontrar em Freud, por exemplo, explicações para tanta disposição ao conflito e ao confronto inconsequente. Freud explica, diz-se sempre diante do aparentemente inexplicável comportamento humano. Mas, infelizmente, o país não tem mais tempo a perder com genialidades e “geniosidades” freudianas. O abismo é logo ali, e precisamos nos desviar dele.

E o primeiro ato do presidente deve ser, afinal, explicar ao distinto público o que pensava, e não falou, antes das eleições. Bolsonaro e seu grupo não podem esquecer que disputaram uma eleição sem apresentar propostas. O presidente foi eleito muito mais pela farda que vestiu um dia do que por suas propostas. Para o eleitor, ele era muito mais o guarda da esquina que acabaria com a violência e prenderia os corruptos. Ninguém imaginou que ele se elegeria para ficar de briguinhas com parlamentares, até porque o eleitor imaginava que ele era maior do que isso, e muito menos para fazer uma reforma da Previdência de cuja necessidade ninguém duvida.

Mas para o povo, este povo que, queiram ou não, o Legislativo representa, essa necessidade não está provada. Dizer que a nova Previdência vai trazer de volta nosso crescimento econômico, e com ele o emprego, a comida na mesa, a casa própria, é vender lote na lua. E o governo sabe disso. Portanto, fala sem a convicção indispensável para convencer a população que hoje tem medo de não poder se aposentar. Precisa mudar seu comportamento imediatamente. Precisa dialogar com o Legislativo e, mais ainda, com o povo. Parar com essa história de que vai economizar R$ 1 trilhão em dez anos, pois R$1 trilhão é cifra inimaginável para o povo, e dez anos é muito tempo para quem votou no presidente acreditando que ele mudaria o país imediatamente.

Não, a mudança, se vier, não será imediata. Apenas novas leis não mudam. É preciso que cada um de nós se comprometa com essa mudança. É muito mais do que esse discurso vazio de se estabelecer “uma nova política”, ótimo slogan para palanque, mas tão vago quanto o pensamento dos que, com frequência, o repetem. Somos um grande país. Precisamos nos transformar numa grande nação. E não será com brigas que vamos chegar lá. Até porque não conseguimos entender o sentido delas. Podem esconder pretexto para alguma aventura comum na América Latina e justificar possíveis fracassos ou alguma coisa que só a psiquiatria explica.