Paulo César de Oliveira

Lula fala demais

Discursos de improviso abrem espaço para deslizes

Por Paulo César de Oliveira
Publicado em 19 de março de 2024 | 07:00
 
 
Paulo César de Oliveirajpg Foto: Ilustração/O Tempo

Gente com intimidade e liberdade – e são muito poucos, como o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia – com o presidente Lula tem alertado a ele que não fale de improviso porque, toda vez que abre a boca, age como se estivesse em um palanque e fala o que não devia. Isso sem contar que, obviamente, a palavra presidencial sempre é deturpada pelos seus adversários políticos. 

Lula, em sua fala na sexta-feira, em Porto Alegre, aonde foi em missão de governo lançar obras, Lula criticou a direita, citando diretamente Bolsonaro e o presidente da Argentina, Javier Milei, e, numa fala raivosa, disse que a democracia no mundo está em risco porque a política no mundo vem sendo feita com raiva. Mas este não é o único deslize nas falas de improviso do presidente. Lula, como presidente, usa um palanque oficial para fazer política, claramente pensando em ganhos eleitorais. 

Recentemente, todos se lembram, ele atacou o governo de Israel, numa comparação da ação militar daquele país em Gaza com o Holocausto, que vitimou milhões de judeus na Segunda Guerra. Na essência, Lula não estava errado ao criticar a violência israelense contra os palestinos – outros líderes mundiais também fizeram críticas posteriormente –, mas errou na forma e na história, o que certamente não aconteceria se não falasse de improviso. Lula não pode se esquecer de que é um nos espaços político-partidários e outro quando se pronuncia como presidente. Aí, fala em nome do povo brasileiro, sobre quem recaem as consequências de sua verborragia.

Nos palanques oficiais Lula não pode ser parcial, criticando a direita e poupando seus aliados da chamada “esquerda”. Pode criticar a violência de Israel, mas não pode se esquecer, omitindo-se historicamente, das vítimas da guerra da Ucrânia, da violência dos amigos Maduro e Ortega contra seus adversários internos e externos. Enfim, precisa olhar antes dos discursos o palanque sobre o qual está. Se no presidencial, o melhor é usar um discurso preparado por assessores preparados. Se no partidário, recomenda-se prudência.

A recomendação vale também para alguns, vários na realidade, governadores que têm se mostrado “língua soltas”, já sobre os palanques eleitorais, não deste ano, mas nos de 2026, quando pretendem a reeleição ou alimentam o sonho da Presidência. Discursos violentos sobre palanques oficiais, invariavelmente, levam a uma radicalização, cujo resultado é sentido principalmente pela população. Cuidado com o que falam.