Paulo César de Oliveira

Lula quer mais mandato

O presidente viciou-se em si mesmo

Por Paulo César de Oliveira
Publicado em 30 de janeiro de 2024 | 07:10
 
 
Paulo César de Oliveirajpg Foto: Ilustração/O Tempo

O ano ainda é 2024, mas a cabeça dos políticos já está bem lá na frente, em 2026, na disputa presidencial. Liderados por Lula, de um lado, e Bolsonaro, de outro – nada de esquerda e direita, apenas jogo de interesses –, os grupos lutam para impedir o surgimento de outra opção eleitoral. Preferem manter a disputa entre eles, pessoalmente ou por representados, evitando correr o risco do banimento da vida política. 

Lula viciou-se no poder. Já está em seu décimo ano como presidente – terceiro mandato – e sonha em chegar a pelo menos mais um mandato. Seriam 16 anos na Presidência, mais do que Vargas, que, entre ditador e presidente eleito, ficou 14 anos. 

Bolsonaro quer mais um mandato, ou eleger alguém que o proteja da cadeia pelos abusos que cometeu como presidente. 

A cadeia é também uma fixação de Lula. Mas nele a fixação é de se provar inocente das acusações que sofreu e que acabaram por levá-lo à prisão e, desejo bem íntimo, se vingar dos desafetos que quase o destruíram moral e politicamente. Nesse afã, Lula, até aqui, se esqueceu de olhar para a realidade política que vive.

Um “viciado em si mesmo”, como o definiu Millôr Fernandes, o petista não se deu conta ainda de que a realidade política de hoje é bem diferente da que viveu nos dois mandatos anteriores. Já não tem a mesma liderança carismática de antes. Seu partido, o PT, já não é mais o mesmo, em número e qualidade, e a oposição, até mesmo a religiosa, cresceu, ganhou força de votos e ficou mais ambiciosa – talvez o termo seja “gananciosa”. 

Junte-se a isso um Lula mais destrambelhado, sem maiores cuidados com as afirmativas (enfim, “conseguimos colocar um comunista no Supremo”, lembram-se?). Lula, um articulador que foi capaz até de ter diálogo fácil com o general Golbery, em plena ditadura, quando líder sindical, hoje tem sérios problemas com articulação. Vem perdendo a batalha do diálogo com o Parlamento e sendo obrigado a ceder espaços cada vez maiores no governo para grupos cada vez mais ousados. 

Nem mesmo no PT o presidente é uma unanimidade e enfrenta críticas de quem ainda é filiado e de quem deixou a sigla e, parece, o velho e apaixonado companheirismo com o ex-metalúrgico. 

Mas Lula não dá sinais de que pretende deixar de ser Lula.

Até onde esse vício de Lula em Lula vai nos levar? A esperança de muitos é que as eleições deste ano sirvam para mostrar a Lula que muita coisa mudou nos últimos anos. Infelizmente, o pior vai ganhando força, e a ingovernabilidade vai aumentando. 

Para os dois lados em disputa, é bom ficar atento. Talvez seja a hora de uma campanha: muda, eleitor. Afinal, a escolha é dele.

Paulo César de Oliveira é jornalista e empresário