Paulo Cesar de Oliveira

Lula se rende a Lira

Acordo para liberação de R$ 20 bilhões em emendas

Por Paulo Cesar de Oliveira
Publicado em 27 de fevereiro de 2024 | 08:00
 
 
Leia artigo de Paulo Cesar de Oliveira sobre os acordos entre Lula e Lira para liberação de emendas e governabilidade Foto: Ilustração O TEMPO

O governo estava parado na Câmara e seus projetos não vinham andando. Ou seja, o governo estava parado e a Câmara também, apesar dos alertas e da urgência, para o país, dos projetos mantidos na gaveta para pressionar o presidente.

Lula viu que faltava política, aquela política que nós brasileiros conhecemos tão bem e que Lula sabe fazer como ninguém. No roteiro desta encenação, ele chamou Lira e os ditos líderes para uma conversa amena e descontraída no Palácio da Alvorada. Tudo com a simpatia do presidente que sabe encantar a todos e falar no ouvido em que os “líderes” gostam de ouvir, prometendo a liberação, claro que antes das eleições municipais, de R$ 20 bilhões em emendas que beneficiam as bases dos parlamentares e, eventualmente, outros segmentos também.

Agora o governo tem a promessa de aprovação das matérias necessárias que vão ajudar a economia com o comando do ministro da Fazenda, Fernando Haddad – que mesmo com os ataques do PT – vem trabalhando com todo afinco.

Mas a situação não é confortável. Lula sabe que não tem mais a liderança política que tinha e que lhe permitiu tomar medidas importantes em seus governos anteriores. Sabe também que a esquerda – ou o que se convencionou chamar de esquerda – perdeu força política e eleitoral e que, por isso, está à mercê não da direita, mas do populismo rotulado de direita, escorado no discurso da religiosidade.

Na medida que se aproximam as eleições deste ano vão aumentar as pressões sobre o governo. Os dois lados envolvidos na disputa política sabem que os resultados destas eleições poderão colocar fogo no país, acirrando ainda mais o enfrentamento.

Até onde Lula poderá se submeter a Lira para assegurar a governabilidade futura? Esta é uma questão que incomoda seus aliados que assistem assustados o ceder de Lula a pressões de grupos políticos sabidamente oportunistas e que não se sabe até quando estarão reajustando seus preços para votar matérias de interesse do governo, muitas delas de interesse imediato do país.

Habilidade política para ceder, Lula está demonstrando que tem. É hora de mostrar que consegue angariar apoios sem tantas concessões. Que os governadores fiquem atentos ao que está acontecendo no plano federal.

Certamente muitos, a imensa maioria, passarão pelo mesmo estreito caminho político enfrentado por Lula que vive agora a experiência de governar sem maioria e escorado numa minoria sem harmonia.