Paulo César de Oliveira

O mau exemplo de Bruno Araújo

A questão das prévias do PSDB e as relações partidárias

Por Paulo César de Oliveira
Publicado em 19 de abril de 2022 | 03:00
 
 

Traindo a vontade do partido ao negar a validade das prévias feitas pelo PSDB, que escolheram João Doria candidato a presidente da República, Bruno Araújo, presidente nacional da legenda, mostra como são frágeis as relações dos políticos com os partidos aos quais se filiam, mais para se servirem da estrutura partidária do que por identidade ideológica.

Para realizar as prévias foram gastos perto de R$ 11 milhões de dinheiro público, já que tirado do Fundo Partidário, em quatro meses de campanha dos três candidatos que se lançaram nas prévias do PSDB (Arthur Virgílio, Eduardo Leite e João Doria). Mais de 44 mil tucanos votaram. E Doria foi o vencedor. Mas, para o presidente do PSDB, a democracia não vale.

Desde o anúncio do resultado das prévias, em novembro passado, Bruno Araújo, indicado por Doria em janeiro de 2019 para comandar nacionalmente o PSDB, trabalha para relativizar a vitória do ex-governador paulista. Faltam respeito e grandeza a Araújo para reconhecer a conquista de Doria.

A realização de prévias, com ampla participação dos filiados, tinha sido um belo exemplo dos “tucanos” às demais legendas, nas quais tem imperado o mandonismo de caciques que se colocam como donos dos partidos, realizando negociatas de fazer corar frades de pedra. Ao tentar emplacar impositivamente o derrotado Eduardo Leite como candidato, relativizando o resultado das prévias, Araújo se mostra um político igual aos piores que temos, despreparados para o exercício da democracia.

Não há razão para uma troca de candidaturas. As pesquisas mostram uma disputa artificialmente polarizada entre dois candidatos, seguidos por um grupo de três ou quatro nomes com chances de crescimento, no qual se destaca o tucano João Doria, que só agora está abrindo sua campanha e se tornando conhecido nacionalmente, mostrando o que fez em São Paulo e que nenhum candidato tem um trabalho apresentado. A campanha, ensinam as velhas raposas mineiras, começa agora, após a Quaresma. E a de Doria certamente ganhará um novo impulso com o comando de Marco Vinholi, presidente do diretório paulista do PSDB, escolhido para substituir Bruno Araújo, que trabalhava contra o candidato que o escolheu.

Mas a “trairagem” de Bruno Araújo não é nenhuma novidade nem fato isolado na política brasileira. São muitos os exemplos de donos de partidos que não têm o menor constrangimento em bandear, negociando apoios da legenda que comandam em troca de benesses futuras. Está aí o exemplo de Paulinho da Força, um ex-sindicalista que virou dono de partido, que ameaça trocar o apoio a Lula por Bolsonaro com a desculpa de ter sido vaiado por petistas em um ato público.

Por mais semelhança que haja nos comportamentos de Lula e Bolsonaro, são candidatos que representam grupos e pensamentos opostos aos do Solidariedade. Mas, e daí? Este é apenas um exemplo. Vejam como agem partidos e políticos Brasil afora nas disputas estaduais. Talvez a exceção – talvez – sejam as disputas municipais, nas quais trair é mais difícil, especialmente nas cidades de menor porte. Agora, mais do que nunca, é hora de respeitar a democracia.