Paulo César de Oliveira

Reformas emperradas

Falta de proposta e segurança para executar as ações necessárias

Por Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2020 | 03:00
 
 

Há estatísticas e números para todos os gostos. Servem para os ufanistas trombetearem um crescimento acima das expectativas, indicando que já vencemos a crise e vamos rapidamente rumo ao futuro. Números que servem para os amargos assegurarem que a situação está ruim e até o final do ano ficará péssima, e números para os mais realistas garantirem que ainda falta muito para que possamos ter uma noção mais precisa do que vai acontecer ao país.

Pesquisas e estatísticas são para serem lidas e interpretadas ao gosto do leitor. Não dá para ficarmos eufóricos ou deprimidos com elas. O que assusta mesmo é ver que o país está nas mãos de amadores, gente que, até agora, foi incapaz de rascunhar um planejamento para a retomada de nosso desenvolvimento. Há uma incômoda sensação de improviso, e mesmo o incensado “Posto Ypiranga” da campanha se mostra inseguro, sem respostas para os desafios a serem enfrentados. Paulo Guedes, o poderoso, se escora até aqui na reforma da Previdência, que apresenta como a salvação nacional – embora saiba que não é bem assim – abraçando uma vitória que não é totalmente dele.

O que o atual governo fez – pode ter sido até a parte mais difícil – foi completar uma reforma que foi iniciada no governo FHC, avançou, por pouco que seja, nos governos petistas e até com Temer. Outras reformas anunciadas com alarde na campanha e nos primeiros dias do governo não andaram, e se andaram foi com passos trôpegos, mostrando a insegurança de um governo eleito com um projeto pobre: desbancar o PT e combater o comunismo, como se ele existisse mesmo no país. Hindemburgo Pereira Diniz – que ocupou cargos importantes a partir do governo Israel Pinheiro – dizia: “depois da tecnologia, acabaram as ideologias”.

Se internamente sofremos com a tibieza da equipe econômica, que por sinal vai se desfazendo com a saída de alguns de seus membros, no plano externo somos um vexame provocado pela desastrada política – ou pela falta dela –, na área ambiental. Os responsáveis pelo setor, incluindo o vice-presidente Hamilton Mourão, demonstram total desconhecimento ou desprezo pelos necessários cuidados com a preservação e expõem o país às críticas do mundo civilizado, no qual, pelo comportamento do governo, não nos incluímos.

O grupo de responsáveis – ou melhor seria irresponsáveis – pelo setor ganhou o reforço do ministro Guedes, que não respeitou nem o conceito de que desfruta no meio econômico mundial, ao defender o país das críticas de economistas norte-americanos. Para responder perguntas críticas sobre o desmatamento da Amazônia, usou argumentos pueris, de menino em briga de rua, afirmando que os norte-americanos não podem criticar, pois destruíram suas florestas e, com o Exército, dizimou a população indígena. Os argumentos, de fazer corar frade de pedra, mostram o quanto estamos despreparados para nos inserirmos na comunidade internacional e o quanto de vexame ainda daremos antes de nos tornarmos respeitáveis.

Talvez seja a hora de começarmos a usar os meses que ainda faltam para nos recolhermos aos gabinetes, às salas de debates, aos escritórios e às lives e debatermos, com seriedade, um projeto de Brasil. Um projeto que seja tocado por aqueles que não estão sobre o palanque pensando em 2022