Nesta quarta-feira (20), os Estados Unidos e o mundo, em meio a uma avassaladora crise sanitária e econômica, assistirão à posse do novo presidente. Joe Biden, que derrotou Donald Trump nas urnas.

Normalmente, o presidente norte-americano é reeleito. Mas não foi o que aconteceu com Trump, que andou na contramão de muitas situações e com seu estilo negacionista em relação à pandemia do coronavírus que abalou o país (onde hoje há o maior número de vítimas no mundo).

Pelo que conversei com vários cidadãos norte-americanos e com brasileiros residentes em Nova York e Miami, não se pode dizer que Trump tenha sido um péssimo presidente. Quase todos elogiaram a condução da economia pelo presidente e sua equipe, embora criticando com veemência seu comportamento irresponsável diante da pandemia. Joe Biden encontra um país em desenvolvimento, mas, como boa parte do mundo, em dúvidas quanto ao futuro econômico e os desdobramentos da pandemia, apesar da vacinação que lá já começou e segue em ritmo razoável.

Se é uma incerteza para o seu povo, o governo Biden, que deverá reservar uma posição de destaque para a vice, Kamala Devi Harris – uma política com forte liderança popular –, inicia-se sob forte expectativa mundial. Para nós, brasileiros, a grande dúvida é como será o relacionamento entre os governantes dos dois países. Há um evidente mal-estar, provocado pelo comportamento pouco político, e mesmo ético, de Bolsonaro, que, encantado com Trump, demorou a reconhecer a eleição do novo presidente e ainda fez críticas ao processo eleitoral dos EUA, sem apresentar qualquer prova que sustente suas acusações, exatamente como age em relação ao sistema eleitoral brasileiro.

Essa expectativa angustia o empresariado nacional, pois é evidente que as relações comerciais do Brasil com os Estados Unidos são da maior importância para o nosso desenvolvimento. Qualquer retaliação econômica pode ser um desastre para o país. Depois de falar o que não devia – no interior de Minas, ensinam que quem fala demais dá bom-dia a cavalo –, o bochicho político é que Bolsonaro já mandou articular uma visita ao presidente Biden. Os sinais, no entanto, não são dos mais animadores. Ao contrário, são de rejeição a uma aproximação entre os dois governos que, pelo menos por enquanto, terão um relacionamento protocolar. Pior para o nosso povo, pior para a nossa economia.

Apesar do discurso populista do presidente e de seus aliados, o Brasil não deu ainda sinais consistentes de que começou a sua recuperação econômica. Bem ao contrário, o comportamento do governo federal diante da pandemia frustrou expectativas em todo o mundo, aumentando a insegurança dos possíveis investidores.

Um presidente e um governo censurados nas redes sociais – o Twitter postou como duvidosas afirmativas de Bolsonaro e do Ministério da Saúde sobre a pandemia – jogam no chão a credibilidade do país, reduzindo as chances de atração de investimentos externos. E, para um governo quebrado, a desconfiança do investidor, interno e externo, é letal.