PAULO DINIZ

Faltou um detalhe

Um dilema interno do governo Lula vem se desenvolvendo nas últimas semanas, com cobertura discreta da imprensa, mas com significativos impactos sobre o futuro

Por Paulo Diniz
Publicado em 16 de abril de 2024 | 06:00
 
 

Um dilema interno do governo Lula vem se desenvolvendo nas últimas semanas, com cobertura discreta da imprensa, mas com significativos impactos sobre o futuro. A popularidade de Lula sofreu queda, indicada por pesquisas divulgadas na primeira quinzena de março, e esse fato foi visto pelas lideranças governistas como grave. Desde então, diferentes análises e soluções vêm sendo aventadas nos corredores do Planalto.

De início, vale ressaltar que quedas em popularidade são fatos do cotidiano político que, em condições normais, não devem ser entendidas necessariamente como crises. Mas consta que o medo de Lula é o de que ele não possa desempenhar em 2024 o papel de grande aglutinador de votos, capaz de contribuir para a eleição de centenas de prefeitos aliados no pleito deste ano.

É bom lembrar que, em 2022, Lula foi eleito com uma vantagem de 1,8% do eleitorado nacional e, desde então, a polarização política pouco arrefeceu. Dessa forma, seria quase irreal desejar índices de popularidade crescentes – dado o equilíbrio nas forças políticas, a manutenção da tensão geral e a tendência natural de desgaste dos mandatários do Executivo. Um caminho sensato para Lula poderia ser a redução das expectativas em relação aos níveis de popularidade.

Vale destacar a orientação dada por Lula na primeira reunião ministerial ocorrida após a divulgação de tais pesquisas: o foco do governo deveria ser o de comunicar mais eficientemente as ações atuais, e não o de criar novas linhas de atuação. Essa foi, inclusive, a tônica de 2023: recuperar os programas tradicionais, já conhecidos da população, e esperar que estes trabalhem pela popularidade do governo. Entretanto, os programas funcionaram muito bem, só que a popularidade presidencial não acompanhou essa mesma tendência.

Esse quadro, pelo que consta, vem intrigando Lula, que agora aposta em uma nova campanha publicitária. O problema, entretanto, parece ser bem mais estrutural: ao recuperar programas de governo tradicionais, é fato que o governo volta a entregar bens e serviços públicos à população, porém não consegue causar surpresa, admiração ou, menos ainda, popularidade junto ao eleitorado.

Ao governo Lula, falta a compreensão de que, com o tempo, as conquistas sociais passam a ser consideradas obviedades pela população – são benéficas, mas, desde que incorporadas ao dia a dia, deixam de ser objeto de demanda popular. Outros objetivos passam a ocupar o foco de interesse da maior parte do povo, sendo que qualquer governo que quiser ser popular deve passar a batalhar por novas metas.

Assim, violência urbana e mobilidade nas grandes cidades passaram a ser os novos interesses, sendo que todas as demais políticas governamentais são vistas como obrigações básicas de qualquer governo. Quem se ocupa de prover apenas o que é visto como básico não pode esperar altos índices de popularidade. Foi assim com os tucanos, à medida que a estabilidade econômica deixou de ser vista pelo povo como a conquista mais importante da história.