PAULO DINIZ

O último desafio de Bolsonaro é unir todos os votos contrários ao PT

Propaganda eleitoral no segundo turno pode criar essa chance

Por Da Redação
Publicado em 02 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
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Mesmo com divergências, as pesquisas de intenções de voto coincidem em apontar Jair Bolsonaro e Fernando Haddad como favoritos na disputa pela Presidência da República, distantes dos demais candidatos. A forma como cada um alcançou essa posição foi intrinsecamente distinta: enquanto o petista segue os passos de Dilma Rousseff, crescendo à sombra do carisma de Lula, Bolsonaro contraria toda a ordem tradicional da política eleitoral.

Alheio a estruturas partidárias, redes de financiadores, apoiadores ilustres e distante até de princípios básicos de cordialidade, Bolsonaro surgiu e se consolidou como muito mais do que o azarão que todos apostavam que ele fosse. É fato que o ambiente anárquico da internet contribuiu para que Bolsonaro crescesse entre grupos específicos de opinião, sobretudo os de viés extremista, que assombram as redes sociais. Porém, hoje, esse diagnóstico não é mais preciso: quem incorreu no erro de enxergar o deputado fluminense apenas por esse viés de sua trajetória, agora corre contra o tempo para tentar alcançar Bolsonaro nas pesquisas.

A representação de opiniões radicais significa, sem dúvida, um ponto importante da peculiar história de Bolsonaro. Porém, esse foi apenas seu local de partida. A partir daí o deputado fluminense galgou degraus bastante distintos. Um deles foi o episódio do atentado contra sua vida, que não lhe rendeu a fugaz compaixão nutrida pelo público brasileiro em relação às vítimas, mas deu a Bolsonaro muito mais exposição nos meios de comunicação do que se poderia obter com qualquer coligação de partidos. Mais do que isso, o atentado tirou Lula das manchetes, colocando Bolsonaro nestas em definitivo.

Outro avanço de Bolsonaro aconteceu quando ele se autocoroou inimigo maior do PT perante o – cada vez maior – público antipetista. A truculência verbal de Bolsonaro contra a esquerda foi um fato novo, principalmente após anos da sisudez abstrata do discurso oposicionista do PSDB; quem havia se cansado do PT viu ali um adversário promissor no qual valia a pena apostar. Nesse processo, é bom destacar o voluntarismo petista, que mirou seus ataques em Bolsonaro ao acreditar que o deputado aceitaria passivamente o posto de “inimigo público nº 1”. Ao construir sua própria narrativa, divulgando-a aos berros, Bolsonaro magnetizou como nunca a antipatia que crescia havia anos no Brasil contra o PT, Lula e a simbologia que os envolve.

Em cada uma dessas etapas, Bolsonaro ganhou para si apoio sólido em novos setores da sociedade. Por isso, os ataques que tem recebido nas últimas semanas, vindos de todos os demais candidatos, não causaram qualquer dano em sua popularidade. Resta saber se, na última semana da campanha, e já fora do hospital, Jair Bolsonaro será capaz de galgar o degrau definitivo, responsável por sua vitória nas urnas.

Considerando a perspectiva, cada vez mais nítida, de realização de um segundo turno, é possível supor que esse último desafio posto a Bolsonaro seja a unificação de todos os votos contrários ao PT, hoje dispersos entre nomes que vão de Geraldo Alckmin a Cabo Daciolo, passando por Henrique Meirelles e Alvaro Dias. A propaganda eleitoral no segundo turno, dividida igualmente entre os dois oponentes, pode dar a Bolsonaro a chance de atingir diretamente o público dos candidatos derrotados no primeiro turno, dispensando a costura de acordos partidários – algo que nunca foi a especialidade do ex-militar.