PAULO DINIZ

Obrigado, Israel!

A memória das primeiras horas após o 25 de janeiro

Por Da Redação
Publicado em 26 de março de 2019 | 03:00
 
 
Em pausa para descanso, agentes de Israel se distraem com moradores de Brumadinho Ramon Bitencourt

A linguagem é uma habilidade que apenas o ser humano domina. Por meio do uso dela, nossa espécie tornou possível não apenas a transmissão do conhecimento, como também o contínuo aperfeiçoamento das informações e técnicas que recebemos: superamos nossa individualidade, pois podemos sempre compartilhar da sabedoria construída por aqueles que vieram antes de nós, além de podermos contribuir com nossas descobertas. Apesar dessas vantagens, a linguagem tem um grande problema, que é o de não resolver automaticamente os problemas sobre os quais trata: palavras não viram ações, a menos que inspirem as pessoas efetivamente a romper a inércia.

Essa questão, aparentemente simples, foi crucial quando do rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Vale em Brumadinho, há dois meses. A desinformação foi a tônica dos primeiros momentos, fruto não apenas do inesperado da situação, de suas dimensões, mas também do desconhecimento sobre o número de pessoas atingidas e, sobretudo, o comportamento da lama que havia vazado. Todos os esforços se voltaram para a busca de sobreviventes que talvez pudessem estar presos sob a avalanche, em veículos ou outras estruturas da mina.

Nesse momento de desespero coletivo, quando cada minuto parecia roubar o fôlego de quem se preocupava com as vítimas do desastre, palavras vieram em profusão. Tanto de outras partes do Brasil quanto de diversos países do mundo, manifestações de solidariedade foram divulgadas às dezenas, juntamente com ofertas vagas de apoio. Ações concretas, aparentemente, não seriam a forma como o resto do mundo ajudaria Minas Gerais.

Então, quando Minas só podia contar com os esforços de seus próprios filhos, no ápice do drama pela busca de vidas, veio Israel. Cientes da importância de cada minuto, os israelenses realizaram a incrível proeza de colocar uma grande equipe de resgate atuando em Brumadinho pouco mais de 48 horas após o acontecimento da tragédia. Nunca a transformação de palavras em ações superou tantos desafios em tão pouco tempo: políticos, diplomáticos, técnicos e logísticos.

É impossível não reconhecer que, por trás de tamanha façanha, havia uma força enorme: a vontade de salvar as vidas de nossos conterrâneos, amigos, parentes e vizinhos que haviam sido tragados pela lama. Atravessar metade do planeta para responder com atos ao clamor do povo mineiro, nas horas mais decisivas: esse mérito é, e sempre será, apenas de Israel.

Sepultada a esperança de encontrar sobreviventes, o desespero cedeu lugar à dor. A ajuda de outros Estados brasileiros chegou a Minas, e o conforto passou a ser mais importante que a rapidez. Artistas do urgente, os israelenses cumpriram sua missão em poucos dias, atestando a impossibilidade de haver vida sob os destroços da Vale.

Nunca mais, entretanto, pode ser perdida a memória das primeiras horas após o 25 de janeiro de 2019. Quando Minas perdeu o chão, e nenhuma palavra dita podia nos erguer da lama, foi Israel que estendeu a mão. Eternamente obrigado, Israel.