O que mais mexeu com o xadrez eleitoral do próximo ano, sem dúvida, foi a decisão do Supremo Tribunal Federal que colocou Lula no jogo, polarizando a disputa com Bolsonaro, o que convém aos dois. Nesse cenário, já no primeiro turno, poderá haver a escolha do presidente, simultaneamente com a eleição para o Congresso Nacional. Os outros candidatos seriam apenas coadjuvantes.

Diante dessa possibilidade e do alto nível de rejeição às duas principais candidaturas, lideranças de partidos e elites – intelectuais e empresariais – que não se alinham com os extremos do espectro político, acreditaram ser possível construir um grande acordo em torno de uma terceira via, que supostamente não quer nem Bolsonaro nem Lula. Condição necessária seria ter um candidato que tirasse um dos dois no primeiro turno. Contudo, a dificuldade de se chegar a um pacto de centro é uma barreira a esse sonho.

Magalhães Pinto, experiente político mineiro, dizia que política é como nuvens, quando se olha está de um jeito, quando se volta a olhar está de outro. Atualmente, os episódios políticos se desenvolvem e se movem em tal velocidade que qualquer previsão sobre possíveis cenários para 2022 torna-se ultrapassada em dias, se não em horas. Haja vista a inesperada internação do presidente Bolsonaro e suas possíveis consequências.

A crescente reprovação ao governo Bolsonaro e sua queda nas intenções de votos estimulados animaram os defensores de uma terceira via, sonhando com o derretimento de força eleitoral do presidente. Cenário que facilita a passagem de outra candidatura para o segundo turno, mas que, por outro lado, aguça as ambições de todos, dificultando a construção de uma frente ampla.

Se as pesquisas simuladas dão esperanças à possível exclusão de Bolsonaro do segundo turno, as pesquisas espontâneas sugerem outra possibilidade, pois neste momento reproduzem mais fielmente o que os eleitores, sem receberem estímulos, pensam hoje. A última pesquisa espontânea do Datafolha mostra que as intenções de votos para Lula subiram nos últimos dois meses, de 20% para 26%, e para Bolsonaro variaram dentro da margem de erro, de 17% para 19%. Duas observações emergem dessas pesquisas. Primeira: a candidatura de Bolsonaro estaria estável; e, segunda: considerando apenas os que indicaram sua intenção de voto, a soma de Lula e Bolsonaro passaria de 50%, continuando a sugerir decisão no primeiro turno.

Então, a eleição já está definida? Jamais. Seu resultado dependerá do movimento das nuvens; isto é, da decisão dos 42% dos eleitores que ainda estão indecisos. Esses devem ser o alvo de desejo dos outros candidatos. Mas, se forem todos candidatos, por si sós e avidamente, com sede ao pote... Adeus.

A possibilidade da terceira via competitiva estará não no reviver o passado, mas no antecipar o futuro.