PAULO PAIVA

Em Minas política já foi arte

O lançamento do livro “Hélio Garcia: A Arte Mineira de Fazer Política nos oferece a oportunidade para encontrar no passado recente outra maneira de fazer política

Por Paulo Paiva
Publicado em 05 de agosto de 2022 | 05:00
 
 

A política tem sido demonizada nestes tempos estranhos. Floresceram o ódio e a intolerância sufocando o diálogo e o entendimento; da falsa ideia de que estaria nascendo uma nova política resultaram o improviso populista e eleitoreiro, prevalente nas eleições de 2018, e o árido deserto da antipolítica. O palco da boa política transformou-se na arena da discórdia, das acusações mútuas e do silêncio fúnebre.

O lançamento, nesta semana, do livro “Hélio Garcia: A Arte Mineira de Fazer Política”, do professor e jornalista Itamar de Oliveira, nos oferece a oportunidade para encontrar no passado recente outra maneira de fazer política, sem ódio nem ressentimentos; ao contrário, com diálogo e respeito, com paixão e elegância.

Utilizando o rigor da metodologia de sua profissão, a apuração cuidadosa, o professor de jornalismo reconstruiu a trajetória de um político ímpar de Minas Gerais e do Brasil. Das opiniões tão diversas de empregados da fazenda Santa Clara, familiares, amigos, colaboradores, correligionários e adversários políticos, e resguardando o relato de cada um, Itamar compôs seu livro-reportagem como um mosaico da vida pessoal e política de uma personagem complexa como foi Hélio Garcia. Vários fatos aparecem contados de maneira diferente, segundo a interpretação do entrevistado. Não é descuido de edição, mas louvável decisão de respeito à opinião do interlocutor, não filtrada por sua própria interpretação.

Itamar não ouviu inimigos, porque Hélio não os teve.
Pela intimidade criada com seu objeto, por meio da primorosa inovação em misturar realidade com ficção em uma obra de natureza biográfica, o autor coloca luz à dimensão humana de Hélio Garcia, sem pretensão de oferecer aos leitores a biografia definitiva desse político singular da segunda metade do século passado.

A leitura fácil e prazerosa revela o homem e o político. As evidências mostram a dualidade de quem, udenista, aprendeu as manhas dos políticos pessedistas com Magalhães Pinto, e, pessedista, soube unir propósitos udenistas com a práxis política de Tancredo Neves. O udenista e o pessedista se fundem no discreto político, cujo objetivo foi servir a nação e buscar o bem comum, razão de ser da política.

O livro está divido em três partes. Na primeira, o autor constrói a passagem de Hélio pelo mundo, de seu nascimento ao final de sua caminhada política; na segunda, procura responder à pergunta: quem foi Hélio Garcia? E, na terceira, com opiniões de ilustres políticos nacionais e ex-presidentes, o autor mostra os desafios da caminhada de HG ao lado de Tancredo pela redemocratização aos riscos da recessão democrática atual.
Itamar de Oliveira termina sua conversa com Hélio Garcia dizendo-lhe: “O senhor não inventou a roda da mediação. Mas nos ensinou o melhor da arte mineira de fazer política”. Leitura imperdível.