As crises econômica e política jogaram o Brasil na sua mais profunda recessão deixando consequências ainda desconhecidas sobre o futuro do mercado de trabalho. Já nos acostumamos a ver nos telejornais noturnos filas intermináveis de pessoas à procura de emprego. Pessoas que passam noites ao relento à busca de uma atividade que lhes dê acesso a renda, mínima que seja para manter sua dignidade e sua esperança. O sonho da rápida recuperação da economia já não alimenta essas pessoas, expostas cada vez mais ao drama da miséria, da fome e do desalento.
O IBGE mostrou que, no trimestre terminando em agosto, a taxa de desemprego ficou em 11,8%, expondo o drama de 12,6 milhões de trabalhadores, em sua maioria, jovens que, embora procurando, não acharam emprego. A taxa de subutilização, também calculada pelo IBGE, inclui, além desses desempregados, os subempregados por insuficiência de horas trabalhadas e os desalentados que nem as intermináveis filas frequentam, pois são aquele que se declaram fora da força de trabalho, embora aceitassem trabalhar, se houvesse emprego. O total dos subutilizados assim definidos chega a 27,8 milhões de pessoas, tornando-se o segundo maior Estado do Brasil, atrás apenas do São Paulo.
Desde o final de 2012, a força de trabalho cresceu 10%, mas a população ocupada, apenas 3,4%, o emprego formal caiu 4,4% e o informal cresceu 5,4%. O segmento de inativos expandiu 6,2% em razão de mudanças na estrutura etária e do aumento dos desalentados. No mesmo período, o volume de desocupados dobrou, passando de seis milhões para 12,6 milhões. O total de desempregados hoje equivale à população da cidade de São Paulo (12,2 milhões).
Segundo estudo do IPEA, o desemprego está se tornando um estado quase permanente para os trabalhadores. Se lá caiu, dificilmente de lá sairá. Nos últimos quatro anos, o volume dos que estão desempregados há mais de dois anos vem crescendo rapidamente. Esta parcela que era de 17,4% do conjunto dos desempregados, no primeiro trimestre de 2015, passou para 24,8%, no mesmo período deste ano. É um contingente de 3,319 milhões de pessoas, maior do que qualquer município brasileiro, exceto São Paulo ou Rio de Janeiro.
Mulheres, adultos com mais de 40 anos e pessoas com nível educacional superior ou médio completos são os mais propensos a ficar mais de dois anos desempregados. No outro extremo do espectro de escolaridade, os trabalhadores menos qualificados são os que estão encontrando vagas no mercado de trabalho, principalmente nas atividades informais.
O emprego formal vem se tornando um bem cada vez mais escasso neste país. Se a recuperação mantiver esse padrão, oportunidades não se abrirão para os mais qualificados. Não haverá bons empregos ou será que a educação não está qualificando adequadamente os jovens?
E olhando para Brasília, Adoniram Barbosa perguntaria: “Mas, seu doutor, e essa gente aí, hein? Como é que faz?”.