PAULO PAIVA

Há razão para esperança?

A consistência da recuperação deverá ser avaliada com mais rigor após a divulgação dos dados da economia no segundo trimestre

Por Da Redação
Publicado em 24 de julho de 2020 | 03:00
 
 

Com informações colhidas até abril, estimativas indicavam queda do PIB mundial, neste ano, em torno de 5,5%, inviabilizando a possibilidade da retomada em forma de V – rápida recuperação após a queda –, como se imaginava no início da pandemia, lá em fevereiro. Com os indicadores vitais das economias mundo afora mostrando agora sinais de reação, a esperança voltou.

Mudanças constantes nas previsões ocorrem quando as incertezas são muitas. Na crise atual, são geradas pelo desconhecimento da amplitude da pandemia, pelas expectativas sobre a chegada da vacina, pelos impactos do isolamento social e pelas respostas às políticas econômicas.

Com a paralisação das economias a partir de fevereiro, a maioria de países agiu com a mesma estratégia, transferindo renda para os segmentos mais vulneráveis da população e oferecendo crédito para as empresas, visando garantir estabilidade à liquidez. Seguindo a redução do isolamento social no mundo, as respostas aos estímulos fiscal e creditício foram imediatas. Os indicadores de produção industrial e de consumo e os índices das bolsas de valores voltaram a subir em maio e junho. Nas economias industrializadas, a reversão foi acentuada, retornando os índices aos níveis pré-crise, e nas economias emergentes foi mais lenta, certamente pelo menor espaço para a expansão fiscal.

O Brasil acompanha os emergentes, porém com retomada mais rápida da produção industrial, do consumo das famílias e da bolsa de valores, levando, inclusive, o presidente do Banco Central a admitir que aqui a reversão configura-se um modelo em V. Bateu e voltou.

Usando com maestria o mix de medidas prudenciais e política monetária, o Banco Central está agindo com equilíbrio e competência nessa grave crise. A taxa básica e a taxa de juros de longo prazo estão nos seus níveis históricos mais baixos.

Contudo, o ambiente ainda é de muita incerteza. A consistência da recuperação deverá ser avaliada com mais rigor após a divulgação dos dados da economia no segundo trimestre. Se nada interromper a tendência atual, o fundo do poço ficará em abril, e o resultado final deste ano, embora negativo, será melhor do que as projeções atuais indicam.

A confiança do mercado e o desempenho da economia no próximo ano dependerão do resultado do conflito nada trivial entre a necessidade de manutenção do limite de gastos do governo e as demandas para implementação de programas de transferência de renda acima do teto.

Grandes desafios estão, portanto, no caminho do desempenho da economia em 2021. O primeiro aparecerá no tamanho do déficit primário na proposta orçamentária que o governo encaminhará para o Congresso Nacional no final do próximo mês; o segundo, o desejo insaciável do governo por novo tributo; e o terceiro, o andamento das reformas estruturais.

Há razões para esperança, mas, também, muitos espinhos no caminho.