PAULO PAIVA

Novo nas eleições, somente o mistério da 'Santíssima Trindade'

Lula, Haddad e Manuela constituem situação nunca vista

Por Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2018 | 03:00
 
 
Duke

Cinco anos se passaram desde as manifestações populares que, no inverno de 2013, acordaram o Brasil. Pessoas nas ruas das capitais e de várias cidades clamavam por novas práticas políticas e exigiam o fim da corrupção. Mobilizadas por meio da internet, sem o apoio de políticos e dos movimentos sociais, que tradicionalmente patrocinam esses tipos de movimento, essas pessoas, em sua maioria jovens, mostravam uma nova cara do Brasil.

Na noite do dia 17 de junho, o Rio de Janeiro reviveu sua marcha dos 100 mil, agora convocados pelas redes sociais, sem participação de partidos políticos, de sindicatos e de entidades estudantis, como a União Nacional dos Estudantes (UNE).

No final de junho, após as primeiras vitórias, como redução de tarifas de ônibus em várias capitais, os protestos reuniram mais de 1,5 milhão de pessoas em todo o país.

Sonhava-se, então, que uma “primavera brasileira” havia surgido para sacudir o país, abrindo espaço para as novas gerações assumirem a condução política, em outra estrutura partidária, sem os antigos ranços e vícios e com práticas políticas e padrões éticos renovados.

No entanto, as eleições de 2014 mostraram que os movimentos não foram suficientes para promover mudanças. Dilma Rousseff foi reeleita, e a renovação do Congresso Nacional não fugiu de seu padrão histórico. Os velhos caciques e seus partidos continuaram dando as cartas na política brasileira.

O impeachment da presidente Dilma resultou apenas no rearranjo parcial dos grupos no poder. Como assinalei neste espaço, em 6.6.2018, Temer chegou, por fim, ao poder com a nódoa da traição e da deslealdade. 

As velhas práticas continuam fazendo da política uma arena de espertezas, trapaças e traições; do “vale-tudo” para conquistar a vitória, pois só essa interessa. Hábitos que vêm dos tempos do Império, conforme registrou Machado de Assis no romance “Quincas Borba”, quando um experiente observador ensina a Rubião: “Isso de política pode ser comparado à paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; não falta nada, nem o discípulo que nega, nem o discípulo que vende. Coroa de espinhos, bofetadas, madeiro, e afinal morre-se na cruz das ideias, pregado pelos cravos da inveja, da calúnia e da ingratidão”.

Nas eleições deste ano, os políticos fazem sua parte. Criaram novas regras que os protegem e vedam mudanças. Financiamento público de campanha, cuja distribuição é proporcional ao tamanho das bancadas na Câmara; tempo menor de propaganda. Combinadas, essas duas novidades favorecem os velhos políticos e inibem a oxigenação da política; isolam aqueles que querem mudá-la e desestimulam a participação dos eleitores que protestam por uma nova ordem política. E fazem mais ainda.

Hoje, em Brasília, mobilizando suas bases, o PT patrocina evento singular destas eleições: o registro de um candidato a presidente condenado em segunda instância e encarcerado, como nunca antes aconteceu neste país. 

Lula, em seu último discurso público, antes da prisão, afirmou não ser mais um ser humano, mas uma ideia. Assim, o Brasil do início do século XXI mostra ao observador de Machado de Assis que ele não havia visto tudo. Faltava ainda ver o registro de uma ideia vagando por aí à procura de votos para se eleger presidente. 

O novo a desafiar o país é, assim, o mistério da “Santíssima Trindade” na campanha eleitoral, unindo, em uma única chapa, um candidato a vice que será elevado a presidente, uma não candidata que será, no final, a efetiva vice, e uma ideia que, de fato, será o candidato virtual.