A economia brasileira precisa voltar a crescer. Sem crescimento econômico deixam de ser gerados empregos formais de qualidade, a renda familiar disponível se reduz, e os governos não conseguem recursos fiscais para financiar o custeio da máquina administrativa. E, ainda pior, o desalento toma conta das expectativas de consumidores e produtores que são traídos pelo ovo da serpente, uma expressão para tudo que, ao nascer, possa ser pernicioso para os interesses legítimos das comunidades: a depressão econômica, as elevadas taxas de desemprego, a insegurança emocional dos indivíduos e das famílias, a instabilidade socioeconômica, a corrupção administrativa. No século XX, do ovo da serpente nasceram, a partir da crise de 1929, as experiências políticas do nazismo, do fascismo, do comunismo. No século XXI, estão aparecendo experiências do populismo político, do autoritarismo prepotente, do neomaltusianismo etc.
A economia brasileira está, nos dias de hoje, prenhe de recursos ociosos. São mais de 27 milhões de brasileiros desempregados, subempregados e desalentados. A capacidade produtiva instalada está com o nível de ociosidade que varia de 20% a 50%, dependendo do setor produtivo. E o amplo e diversificado empreendedorismo potencial da nova geração se encontra reprimido pela falta de oportunidades para progredir. O que fazer?
Trata-se do caso típico da insuficiência de demanda agregada, a qual se aprofunda quando os governos reduzem os seus gastos de custeio e de investimentos, quando as famílias deixam de consumir por causa do desemprego ou do superendividamento e os empresários deixam de investir pelas incertezas da economia e se abraçam à armadilha da liquidez.
Em 1965, havia uma imensa ociosidade no mais moderno parque industrial do Terceiro Mundo, criado pelo Programa de Metas de JK. Roberto Campos e Gouveia de Bulhões desencadearam, simultaneamente, um conjunto de reformas institucionais e microeconômicas de última geração que iriam criar os fundamentos do “milagre econômico” dos anos 1970, além de um conjunto de instrumentos econômicos e mecanismos para ativar a demanda agregada (sistema de crédito direto ao consumidor, o sistema financeiro da habitação, o sistema de promoção das exportações etc.).
Outra experiência: quando o Plano Real conseguiu abortar o processo da superinflação que acompanhava a economia brasileira desde os anos 1980, a demanda agregada se expandiu significativamente graças à recomposição do poder de compra da massa salarial, decorrente do fim do imposto inflacionário. A partir do segundo semestre de 1994, consolidou-se um novo patamar do consumo privado, com a incorporação de milhões de famílias de trabalhadores aos mercados de bens de consumo duráveis e não duráveis.
Enfim, não há dúvida de que a reforma da Previdência e a reforma tributária são indispensáveis para um novo e longo ciclo de expansão da economia brasileira. Mas não há dúvida também de que é indispensável ativar no curto prazo instrumentos e mecanismos para dinamizar a demanda agregada, visando à absorção da capacidade ociosa da nossa economia. Essa ociosidade do potencial econômico do país se exprime, de um lado, por uma recessão econômica, e, do outro, pelo drama psicossocial e pelo empobrecimento das famílias brasileiras. Não voltaremos a resolver esses problemas se prevalecerem entre os formuladores das políticas econômicas a pobreza de ideias e a falta de engenho e arte.