PAULO HADDAD

Cinco incertezas

Quando o futuro é incerto, o que importa é a cadência do processo de tomada de decisão sobre o investimento.

Por Da Redação
Publicado em 05 de dezembro de 2019 | 03:00
 
 

A acumulação de capital produtivo é a base do crescimento de uma economia. Países e regiões que dedicam parcela significativa de sua produção anual para a formação de capital em processos produtivos inovadores apresentam melhorias nas condições de produtividade da mão de obra e taxas de emprego e renda social em elevação. 

A política econômica do último quinquênio vem trabalhando com a hipótese de que o atual programa de austeridade fiscal teria a capacidade de eliminar o risco de insolvência financeira do setor público consolidado, revertendo as expectativas e as incertezas das instituições e dos agentes econômicos. A regra de ouro dessa política: maior equilíbrio fiscal, menores incertezas, maior expansão econômica.

Mas, como o investimento é uma decisão orientada para o futuro, é preciso lembrar que ele tem aspectos de irreversibilidade (diferentemente de uma aplicação financeira) e, portanto, opera num contexto de extrema volatilidade.

Quando o futuro é incerto, o que importa é a cadência do processo de tomada de decisão sobre o investimento. O ritmo do processo pode ser profundamente afetado pela incerteza sobre a dinâmica dos mercados, levando a postergar o investimento, como tem ocorrido no Brasil com os grandes projetos. A delonga, ou remodulação intertemporal, dos investimentos é uma decisão racional do ponto de vista dos empresários privados, pois envolve trade-off entre os retornos de se investir hoje e a possibilidade de se poder tomar uma decisão mais informada (menos incerta) no futuro.

Ocorre, porém, que, na atual situação socioeconômica do Brasil, o grau de confiança dos investidores nacionais e multinacionais não se refere apenas às inconsistências macroeconômicas do país, com os seus déficits fiscais e previdenciários, que, se não forem estruturalmente equacionados, poderão desembocar em um novo ciclo de superinflação. Há outras incertezas, igualmente relevantes, que estão travando a formação de capital produtivo na economia brasileira.

Há incerteza quanto ao tempo em que as reformas econômicas e institucionais poderão gerar resultados operacionais efetivos, assim como quanto ao timing do novo ciclo de crescimento. Há incerteza quanto a uma reação política mais incisiva dos diferentes grupos sociais à vertiginosa expansão das desigualdades sociais, ao empobrecimento da classe média e à perda de qualidade dos serviços públicos tradicionais.

Há incerteza quanto ao ambiente econômico internacional, resultante da onda protecionista desencadeada pela política econômica norte-americana, assim como quanto à reação dos países desenvolvidos ao desmonte das políticas ambientais no Brasil.

Por último, mas não menos importante, uma quinta incerteza: a inadequação histórica do estilo de liberalismo ortodoxo que permeia a atual política econômica, o qual tem sido denominado “economia zumbi’ porque suas ideias econômicas não morrem, apesar de suas inconsistências lógicas e de seus maciços fracassos empíricos, pois, ainda que refutadas repetidamente, continuam voltando.

Como dizia Keynes: “O Estado da expectativa a longo prazo, que serve de base para as nossas decisões, não depende, portanto, exclusivamente do prognóstico mais provável que possamos formular. Depende, também, da confiança com a qual fazemos este prognóstico – à medida que ponderamos a probabilidade de o nosso melhor prognóstico revelar-se inteiramente falso”.