Quando, em 1890, Alfred Marshall, um pensador do liberalismo inglês, propôs que a análise dos problemas econômicos fosse realizada diferenciando o curto, o médio e o longo prazo, a sua preocupação era com as nossas faculdades ou poderes limitados para analisar os complexos fenômenos da vida econômica de um país. Considerava que o elemento “tempo” é a principal causa das dificuldades nas investigações econômicas. Assim, o analista deve ir passo a passo, fragmentando uma questão complexa, estudando cada parte num tempo e, por fim, combinando suas soluções parciais numa solução mais ou menos completa do quebra-cabeça.

Assim, é possível distinguir uma política econômica de curto prazo do que é uma política de desenvolvimento de longo prazo. Atualmente, no caso brasileiro, precisamos utilizar os instrumentos econômicos e os mecanismos institucionais da política fiscal e da política monetária para superar os desequilíbrios das finanças públicas provocados pelas despesas imprevistas e indispensáveis relacionadas com o ciclo da pandemia do coronavírus.

Mas é bom lembrar que o tempo segmentado por Marshall é para fins de análise; não se trata do calendário gregoriano. Não se pode esperar que as questões de desenvolvimento do país, no médio e no longo prazo, fiquem na dependência dos resultados finalísticos do novo ajuste fiscal, pois algumas dessas questões trazem em si as sementes de uma reprodução perversa no curto prazo.

No caso das desigualdades sociais, é grande a probabilidade de que os filhos de famílias pobres acabem por constituir famílias de filhos pobres. Em relação às mudanças climáticas, um sistema pode experimentar uma profunda descontinuidade no seu comportamento e caracterizar uma inflexão de um estado estável para outro estado irreversível, com estresses de poluição, de crise hídrica, de desertificação etc. Já em relação aos desequilíbrios regionais de desenvolvimento, as forças de mercado podem conduzir a um processo de reconcentração espacial dos novos projetos de investimentos nos eixos mais desenvolvidos do país. Essas questões são de solução de longo prazo, sim, mas o tempo não para a fim de que se possa resolvê-las.

Estão sendo discutidas, em Brasília, propostas para utilizar recursos fiscais com o objetivo de financiar um conjunto de obras públicas visando à geração de renda e emprego em uma economia que se afunda na recessão, no desemprego e no empobrecimento da população. Os seus autores vêm sendo rotulados, com certo tom pejorativo, de “desenvolvimentistas”, em uma tentativa de desqualificá-los. Na verdade, trata-se de uma política anticíclica de curto prazo, através de investimentos do governo federal em infraestrutura econômica e social e da manutenção da política de renda emergencial para realizar a necessária transição pós-pandemia, em um ambiente de relativa estabilidade política.

O novo Ministério da Economia tem, como Ministério da Fazenda, a responsabilidade pela macroeconomia de curto prazo e, como Ministério do Planejamento, a responsabilidade pelo processo de desenvolvimento sustentável do país. Ou seja, integrar, com engenho e arte, políticas de curto prazo com políticas de médio e longo prazo no tempo do calendário gregoriano. Como dizia Sêneca, “dedica-se a esperar o futuro quem não sabe viver o presente”.