PAULO HADDAD

Os servidores de Minas

Pesquisa evidencia os três fatores mais relevantes para o estresse no trabalho no Brasil

Por Da Redação
Publicado em 25 de março de 2019 | 03:00
 
 

A Internacional Stress Management Association (ISMA) é uma associação internacional, fundada nos EUA em 1973 e com representação no Brasil, que busca pesquisar as principais causas do estresse no trabalho. A pesquisa realizada neste ano evidencia que os três fatores mais relevantes para o estresse no trabalho no Brasil são, respectivamente: o receio de perder o emprego (67%), a sobrecarga causada pelo excesso de tarefas (63%) e o desequilíbrio entre esforço e recompensa (56%).

A pesquisa ISMA-BR-2019, divulgada no “Valor”, mostra também que “a convivência com a sensação de injustiça e insegurança no trabalho potencializa o surgimento e o agravamento de sintomas emocionais (ansiedade, angústia, raiva e depressão), físicos (dores musculares, distúrbios de sono, problemas gastrointestinais, taquicardia ou arritmia) e comportamentais (desmotivação, agressividade com redução de tolerância, consumo de drogas prescritas ou ilícitas, distúrbios do apetite)”. Com base nos resultados dessa pesquisa de psicologia social, podemos estabelecer algumas reflexões qualitativas e específicas sobre os impactos da atual crise econômico-financeira de Minas sobre o estresse entre os servidores públicos do governo estadual.

É preciso lembrar que, depois da Segunda Grande Guerra até o final do século passado, o serviço público de Minas sempre se destacou como um dos mais eficientes, inovadores e eficazes entre todas as 27 Unidades da Federação. Além da prestação competente e dedicada das funções tradicionais nas áreas de educação, saúde, segurança e justiça, o serviço público estadual se projetou no cenário internacional por realizar diferentes processos de inovações estruturantes.

Através do planejamento do desenvolvimento endógeno, o Estado foi capaz de conceber e implementar as primeiras experiências de exploração econômica dos Cerrados brasileiros, que são, atualmente, um dos principais celeiros de produção de proteína animal e vegetal do mundo. Em matéria de gestão administrativa, o serviço público estadual desenvolveu os sistemas de planejamento e controle, tirando os órgãos da administração direta das mesmices de curto prazo, com a introdução das modernas metodologias de planejamento.

O mesmo ocorreu com projetos inovadores, a serem posteriormente federalizados, nos campos das políticas de ciência e tecnologia, de saúde pública, de associativismo microrregional, entre tantas outras inovações e reinvenções. Em todos esses processos, há que se destacar o intenso engajamento de servidores públicos, motivados e sensibilizados em busca do desenvolvimento sustentável do Estado.

Entretanto, ao longo das duas últimas décadas, Minas tornou-se uma economia de baixo crescimento socioeconômico, e a administração pública, vítima de muitas ações casuísticas e fisiológicas, com elevada propensão à corrupção administrativa. Quando o Estado se torna ineficiente e ineficaz, quem mais sofre são os segmentos pobres da população, para quem os serviços sociais básicos são uma questão de sobrevivência.

Quanto aos servidores públicos estaduais, além de apresentarem diversos sintomas emocionais, físicos e comportamentais de estresse nas jornadas diárias de trabalho, estão envoltos nas incertezas e injustiças da política salarial do Estado, que se tornou um fator de tensão a mais na gestão orçamentária de suas famílias. Até quando?