Na última sexta-feira, milhares de pessoas compareceram ao Celtic Park para acompanhar o cortejo que levava o corpo de Billy McNeill, o primeiro jogador britânico a erguer a Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1967, quando a equipe celta atingiu a glória no continente ao superar a Inter de Milão por 2 a 1, eternizando aqueles que para sempre seriam chamados de "Os leões de Lisboa". O último adeus. Dentre aqueles garotos nascidos e criados nos arredores de Parkhead, estava o que ganharia o apelido de "César". Uma alusão ao imperador romano mais do que apropriada. McNeill era a alma, o coração e a cara do Celtic. Sofria de demência. Faleceu aos 79 anos.
O capitão de jogo austero, clássico, que deixou o Blantyre Victoria aos 17 anos para se juntar aos "The Bhoys", atuou por 18 temporadas no Celtic. Foram quase 800 partidas pelo clube e 34 gols marcados. Em sua história no lado alviverde de Glasgow, o único que encarnou até o fim de sua vida, somam-se 23 títulos como jogador e ainda sete como técnico, um dos 19 comandantes fixos (o clube ainda teve cinco interinos, inclusive o atual Neil Lennon) em seus 131 anos de história.
O clima que tomou conta de Glasgow, nessa sexta-feira, onde o futebol escocês pagou o último tributo a uma lenda, talvez tenha sido o incentivo final para que o Celtic entrasse em campo disposto a não deixar dúvidas de sua hegemonia na Escócia.
Os "The Bhoys" precisavam apenas de um empate contra o Aberdeen. Mas McNeill merecia mais. E foi assim que a equipe do técnico interino Neil Lennon, o substituto de Brendan Rodgers, que deixou os celtas neste ano de forma controversa para comandar o Leicester, não tomou conhecimento do adversário, aplicando, fora de casa, um 3 a 0, com gols de Mikael Lustig, Jozo Simunovic e Odsonne Edouard.
Uma perfeita e apropriada homenagem ao homem que tem na porta do Celtic Park uma estátua de bronze que crava seu legado. O Celtic conquistou o título escocês pela oitava temporada seguida e mira se tornar o primeiro decacampeão do país, superando assim seu próprio recorde de nove taças, que também é compartilhado com o rival Rangers.
Mas antes de ir em busca do futuro, os 'The Hoops", sob a benção de Billy McNeill, vão atrás de mais um triplete (tremble) no futebol escocês, o terceiro seguido. Enfrentam o Hearts, no dia 25 de maio, pela final da Copa da Escócia. A última barreira que falta depois de erguer o Campeonato Escocês e a Copa da Liga Escocesa. Os tempos podem ser outros em Parkhead. A globalização do futebol pode ter minado certas características do Celtic, mas jamais a essência. Um time que sabe de onde veio. Um time de Billy McNeill, descrito nas palavras precisas do arcebispo Philip Tartaglia, durante o funeral do ex-atleta.
"Tal como acontece com os melhores heróis, ele foi abençoado com um personagem despretensioso. Ele nunca esqueceu suas próprias origens e sempre teve tempo para pessoas comuns e fãs".