Vai longe uma época em que as revendas autorizadas de Belo Horizonte pertenciam a tradicionais famílias do comércio de automóveis da capital. Naqueles tempos, era possível identificar os donos dessas empresas, que, invariavelmente, passavam quase todo o dia no salão da concessionária, grande parte do tempo recebendo cativos clientes de uma “carteira” feita com muita conversa e amizade. Hoje, o belo-horizontino que retornar após uma razoável ausência encontrará a cidade bem diferente do que poderia supor.
Já deixamos, também, de ser um dos centros financeiros do país, tendo sediado alguns dos mais importantes bancos brasileiros, como o já extinto Nacional e também o Banco da Lavoura – depois Real e, hoje, Santander. E vem sendo assim com as demais atividades, com enfoque – como é o tema de nosso InterCâmbio desta semana – no comércio de automóveis, cujas autorizadas vêm sofrendo mudanças no comando acionário com muito mais frequência do que outrora. Há muito tempo, a Volkswagen focava suas atenções em Belo Horizonte nas revendas Mila, Mercantil, Reauto, Carbel e Veminas, brigando pelo mercado de carros novos na cidade. Permanecem até hoje apenas a Carbel e a Mila, essa última com a gestão do Grupo Líder, o mesmo da Recreio VW, da avenida Barão Homem de Melo.
A Catalão, em BH, e a Reauto, em Contagem e Betim, também seguem com a bandeira da marca alemã hasteada. Vale ressaltar que a Carbel está entre as poucas remanescentes que permanecem sob o controle da mesma família – no caso, os Pentagna Guimarães. Outras que disputam a liderança de vendas têm novos donos ou deixaram de existir. Da parte que cabe à Chevrolet, a Motorauto, do saudoso Antônio Augusto Ferreira e seus filhos, alternava com a Casa Arthur Haas, na rua dos Timbiras, no centro da cidade, a liderança do pódio. A revenda do seu Antônio na avenida Pedro II já virou primeiro Orca e depois Jorlan, ambas pertencentes ao mesmo grupo oriundo de Goiás de mesmo nome. Já a Casa Arthur Haas foi vendida ao forte Grupo Líder (Recreio VW) depois de décadas sob a batuta do incansável líder empresarial Luiz Fellipe Haas.
Aqui vale abrir um parênteses. Até a negociação do controle da concessionária, Luiz Fellipe conservou o hábito de ficar no salão de vendas recebendo os clientes de relações construídas ao longo de uma vida e dedicação à centenária casa, que levava o sobrenome de seu avô Arthur, fundador da empresa. Para concluir as negociações com a marca da gravatinha, a Grande Minas, leia-se Gercino Coelho, sucedeu a Brasvel na avenida Antônio Carlos. Já a Ford passou por sérios percalços anos atrás em Belo Horizonte. Naturalmente, a rede de distribuidores não passaria incólume às desventuras da marca norte-americana. Do passado, representando a marca do oval azul, só restou hoje a Cisa, ou melhor, Pisa Ford, que mudou a letra C pela P, mas manteve o endereço na avenida Amazonas, 7.700, no bairro Gameleira, com a família do empresário Leonardo Augusto Ferreira (filho de seu Antônio) no comando, hoje exercido por Leonardo Augusto Filho.
Em relação à Fiat, houve muitas mudanças. Na capital mineira, hoje, apenas a Automax segue firme na direção segura de José Eduardo Lanna Valle, que tem a seu lado o competente e dedicado executivo Victor Gomes, além da filha Adriana Valle e do genro Rogerio Bechalany. A rede em Belo Horizonte conta, ainda, com o sólido Grupo Roma, a Tecar, a Sinal e a Strada, essa última do Grupo Bonsucesso. Na dança das cadeiras, muitas revendas fecharam as portas, e outras tiveram a bandeira vendida, dando lugar aos grandes grupos empresariais que mantêm o controle de concessionárias de várias marcas de automóveis espalhadas por todo o país, comprando e vendendo grandes volumes. Só assim para manter lucratividade em um negócio que hoje conta com margens cada vez mais reduzidas.