Raimundo Couto

Jornalista especializado no setor automotivo, escreve às quartas-feiras no caderno Veículos

Histórias do fundo do baú

Publicado em: Qua, 18/04/18 - 03h00

Vai longe uma época em que as revendas autorizadas de Belo Horizonte pertenciam a tradicionais famílias do comércio de automóveis da capital. Naqueles tempos, era possível identificar os donos dessas empresas que, invariavelmente, passavam quase todo o dia no salão da concessionária, grande parte do tempo recebendo cativos clientes de uma carteira feita com muita conversa e amizade.

Hoje, o belo-horizontino que retornar após uma razoável ausência, encontrará a cidade bem diferente do que poderia supor. Já deixamos, também, de ser um dos centros financeiros do país, sediando alguns dos mais importantes bancos brasileiros, como o já extinto Nacional e também o Banco da Lavoura – depois Real, e hoje Santander. E vem sendo assim com as demais atividades, com enfoque – como é o tema – de nosso Inter-Câmbio desta semana – com o comércio de automóveis, cujas autorizadas sofreram mudanças no comando acionário com muito mais frequência do que outrora.

Há muito tempo, a Volkswagen focava suas atenções em Belo Horizonte nas revendas Mila, Mercantil, Reauto, Carbel e Veminas, brigando pelo mercado de carros novos na cidade. Permanecem até hoje apenas a Carbel e a Mila, esta última com a gestão do Grupo Líder, o mesmo da Recreio VW, da avenida Barão Homem de Melo.

A Catalão, em BH, e a Reauto, em Contagem e Betim, também seguem com a bandeira da marca alemã hasteada. Vale ressaltar que a Carbel está entre as poucas remanescentes que permanecem sob o controle da mesma família, no caso, dos Pentagna Guimarães. Outras que disputam a liderança de vendas têm novos donos ou deixaram de existir.

Da parte que cabe a Chevrolet, a Motorauto do saudoso Antônio Augusto Ferreira e seus filhos alternavam com a Casa Arthur Haas, na rua Timbiras, no Centro da cidade, a liderança do pódio. A revenda do “seu Antônio” na avenida Pedro II, já virou, primeiro, Orca, e depois Jorlan, ambas pertencentes ao mesmo grupo oriundo de Goiás. Já a Casa Arthur Haas foi vendida ao forte Grupo Líder (Recreio VW) depois de décadas sob a batuta do incansável líder empresarial Luiz Fellipe Haas.

Aqui vale aqui um parênteses. Até a negociação do controle da concessionária, ele conservou o hábito de ficar no salão de vendas recebendo os clientes de relações construídas ao longo de uma vida e dedicação à centenária “Casa”, que levava o sobrenome de seu avô Arthur, fundador da empresa. Para concluir as negociações com a marca da gravatinha, a Grande Minas, leia-se Gercino Coelho, sucedeu a Brasvel, na avenida Antônio Carlos.

Já a Ford passou por sérios percalços anos atrás em Belo Horizonte. Naturalmente, a rede de distribuidores não passaria incólume às desventuras da marca norte-americana. Do passado, representando a marca do oval azul só restou hoje a Cisa, ou melhor, Pisa Ford, que mudou a letra C pela P, mas manteve o endereço na avenida Amazonas 7.700, no bairro Gameleira, com a família do empresário Leonardo Augusto Ferreira (filho do seu Antônio) no comando, hoje exercido por Leonardo Augusto Filho.

Em relação à Fiat, houve muitas mudanças. Na capital mineira hoje, apenas a Automax segue firme e na direção segura de José Eduardo Lanna Valle, que tem ao seu lado o competente e dedicado executivo Victor Gomes, além da filha Adriana Valle e do genro dele Rogerio Bechalany. A rede em Belo Horizonte conta, ainda com o sólido Grupo Roma, a Tecar, a Sinal e a Strada, esta última do Grupo Bonsucesso.

Na dança das cadeiras, muitas revendas fecharam as portas e outras tiveram a bandeira vendida, dando lugar aos grandes grupos empresariais que mantêm o controle de concessionárias de várias marcas de automóveis espalhadas por todo país, comprando e vendendo grandes volumes. Só assim para manter lucratividade em um negócio que hoje conta com margens cada vez mais reduzidas.

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