RICARDO SAPIA

Vergonha

Vivemos em um país em que, se considerarmos apenas os assassinatos, as estatísticas são muito mais favoráveis aos bandidos do que à Justiça

Por Da Redação
Publicado em 15 de março de 2019 | 03:00
 
 

Nessa quinta-feira (14) completou um ano das mortes de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Ela foi eleita vereadora pelo município do Rio de Janeiro (RJ) pelo PSOL, com mais de 46 mil votos.

Coincidência ou não, apenas dois dias antes de completar um ano, dois ex-policiais militares, um aposentado (ou melhor, reformado) e outro que foi expulso dos quadros da polícia carioca por envolvimento em ilicitudes, foram presos depois de uma investigação que utilizou a nuvem dos celulares dos criminosos para rastrear os passos da dupla no dia do assassinato de Marielle e colocá-los na cena do crime em 14 de março do ano passado.

O vereador Marcello Siciliano foi apontado como mandante do assassinato de Marielle na mesma denúncia anônima que acusou Ronnie Lessa de ser o executor do crime, por R$ 200 mil. A revelação consta da investigação da Delegacia de Homicídios (DH), que partiu desse testemunho para chegar a Lessa. O vereador já havia sido atrelado ao assassinato no ano passado, a partir de uma delação de uma testemunha que, no mês passado, admitiu ter mentido no depoimento. Na última terça-feira, logo após a prisão dos dois, o delegado responsável pelo caso, Giniton Lages, disse que o parlamentar não estava descartado, mas não havia anunciado sua menção na nova denúncia. Procurado, Siciliano nega sua participação e diz se tratar de uma “operação de vingança”.

Em 15 de outubro de 2018, a DH recebeu uma denúncia anônima informando que o ex-policial, conhecido como Lessa, apelidado de “Perneta”, seria o autor do assassinato de Marielle. O denunciante disse que o executor, um “ex-caveira”, teria saído do restaurante Tamboril, no Quebra-Mar, rumo ao local do atentado, e que fora encomendado por R$ 200 mil para a empreitada criminosa.

Posteriormente, a investigação chegou ao nome do ex-policial Ronie Lessa, e descobriu que o apelido dele seria em função da explosão ocorrida em 2009, no carro em que ele dirigia, que terminou por amputar sua perna. E, para completar, logo após cometerem o crime, os dois foram “comemorar” em uma churrascaria na Barra e por lá ficaram até as 3h30.

Os políticos aproveitaram para “produzir” fake news e publicações nas redes sociais no mínimo ridículas, para não escrever um palavrão na coluna. De um lado, a esquerda tentando associar os criminosos a Bolsonaro, já que eles moram no mesmo condomínio do presidente da República; e, por outro lado, a direita tentando desmerecer Mariellle, como publicou um dos filhos de Bolsonaro: “Quem era Marielle?”.

Vivemos em um país em que, se considerarmos apenas os assassinatos (em que os inquéritos de investigação são abertos compulsoriamente), as estatísticas são muito mais favoráveis aos bandidos do que à Justiça. Conforme dados oficiais da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública, somente 6% dos homicídios dolosos (com intenção de matar) são solucionados no país. Nos Estados Unidos, esse índice chega a 65%; na França, é de 80%; e, no Reino Unido, 90%, somente para citar três bons exemplos.

“Vergonha” é a palavra mais honesta que posso usar para descrever a segurança pública em nosso país.