Com o dólar beirando os R$ 4, o Brasil de repente ficou barato. Quem costuma viajar para comprar começa a redescobrir o comércio local, e quem gasta para comer, se fizer a conversão, descobre quanto está mais barato comer por aqui.
Uma conta de R$ 400 corresponde a um bom jantar com vinho, para duas pessoas, nas melhores casas do país. Por US$ 100, em casas do mesmo nível no exterior não dá nem para a saída. Nesse valor, estão inclusos um ótimo vinho de bom preço, entrada, prato principal e sobremesa.
É uma equação a ser resolvida pelos chefs, que têm o aumento da maior parte de seus insumos, especialmente os importados, que acompanham o dólar, enquanto o ganho do cliente continua sendo em real. A crise ensina muita coisa: do rigor absoluto na administração à exigência do máximo de profissionalismo na qualidade da cozinha e do serviço. Felizmente, não é momento para diletantismos.
Valorização
O cliente, mais do que nunca, valoriza seu dinheiro e, quando sai para comer fora, não quer enganação. Chefs performáticos, com cozinha irregular, são trocados por profissionais atentos, sérios, trabalhadores e dedicados. Quem está numa cozinha sabe que o glamour associado hoje à profissão é consequência, que prêmios são passageiros e o que fica, na verdade, é o trabalho duro (como todos), meticuloso e cotidiano.
A boa notícia é que hoje existem muitas boas mesas por aqui mesmo e a ótimos preços pela referência cambial. Mesmo em São Paulo, a cidade em que melhor se come no Brasil, pela quantidade e variedade de ótimos restaurantes, os preços estão bem abaixo do que em Nova York, Londres ou Paris.
Com a proximidade das Olimpíadas, os preços no Rio estão altos. A referência de alguns restaurantes são os menus pré-fixados em euros na Europa, basta fazer a conversão que fica clara a base do preço. Numa cidade que recebe um grande fluxo de turistas estrangeiros, no momento isso não é um problema, mas, depois das Olimpíadas, uma revisão será praticamente certa.
Em São Paulo, ótimas experiências estão em novos restaurantes, como o mexicano La Central, no Copam; o Bráz Trattoria, no Shopping Cidade Jardim; e o Manioca, de Helena Rizzo, dentro da livraria Cultura no Shopping JK. Mesmo o Maní, de Rizzo, e o D.O.M, de Alex Atala, ficaram mais baratos em dólar em relação aos demais restaurantes da lista dos 50 melhores do mundo.
O Brasil, no momento, empobreceu, mas a cena gastronômica pode se enriquecer pela maior dedicação dos profissionais da área e pela redescoberta das boas casas locais pelo cliente que costuma viajar ao exterior para comer.