Sabores do Mundo

quintino@otempo.com.br Renato Quintino é professor e consultor de gastronomia, vinhos e harmonização, guia de turismo gourmet e enológico e escreve o blog www.renatoquintino.com.br

Gastronomia

Sempre teremos Paris

Publicado em: Sex, 06/05/16 - 19h56
O excelente bistrô Chez L’Ami Jean continua sendo uma excelente opção de cozinha basca na Cidade Luz | Foto: Renato Quintino/divulgação

“É uma catástrofe”, afirmou recentemente o chef três estrelas do Guia Michellin Yannick Alléno, dono do Pavillon Ledoyen, sobre a situação dos restaurantes estrelados em Paris. Unindo a crise financeira internacional, que afetou a indústria de produtos de luxo, e os recentes ataques terroristas à cidade e à Bélgica, Paris foi abandonada pelos turistas.

Crítico à política do governo do presidente François Hollande, que declarou que a França está em guerra e impôs o estado nacional de emergência em vigor, o chef e restauranteur Alain Ducasse lembrou que esteve em Nova York logo após o atentado de 11 de setembro e elogiou a atitude oposta do então prefeito norte-americano, que estimulou o turismo e o comércio dizendo que a vida tinha que seguir em frente. Para Ducasse, a mensagem de medo do governo francês se tornou terrível para os restaurantes e toda a economia do país.

Os hotéis de luxo que sediam muitos restaurantes estrelados vivem ainda a crise deflagrada pelos aluguéis de apartamentos em sites, o que reduz não só o movimento em seus próprios restaurantes como o poder dos concierges de indicar outros endereços. E, para piorar, os próprios parisienses estão usufruindo mais dos serviços delivery de alta qualidade que a cidade oferece ou contratando chefs renomados para cozinhar em casa.

Salões vazios

Os restaurantes que mais estão sofrendo são os estrelados pelo Guia Michelin, segundo o ministro de relações exteriores francês Philippe Faure, que afirma o óbvio: as pessoas entram no restaurante, veem que estão vazios e vão para o bistrô da esquina, lotado.

Em almoço recente no Plaza Atenée, de Alain Ducasse, havia apenas duas mesas ocupadas com duas pessoas cada; no Le Cinq, do mesmo chef, no hotel Ritz, apenas duas mesas também, no jantar; e no Les Bouquinistes, fundado pelo chef Guy Savoy, havia apenas uma mesa ocupada no jantar.

A crise faz com que alguns chefs partam para promoções, como Gilles Epié, do Citrus Étoile, que está oferecendo 30% de desconto para reservas online.

O crítico de gastronomia do L’Express, que come fora em Paris diariamente, registrou o desapontamento ao ver o almoço no duas estrelas Le Gabriel, do hotel de luxo La Réserve, ter apenas um terço de suas mesas ocupadas. A seu ver, tal situação “cria uma atmosfera de stress e ansiedade para chefs, proprietários e clientes”.

Até mesmo o cultuado bistrô basco Chez L’Ami Jean foi visitado por um crítico norte-americano, que registrou ter a casa apenas a sua mesa, naquele momento, ocupada, mostrando que a crise repercute também em casas mais baratas que são referência na cidade.

Infelizmente, como disse o ministro Faurre, “todos deverão ter muita paciência”. Mas, felizmente, excelentes bistrôs, como o recém-reaberto Le Comptoir du Ralais e o basco Le Pottoka, assim como as casas estreladas, a exemplo do chef Christrian Constant, Saturn, e de Le Septime, Le Servan, Le Richer, Les Comptori Canailles, Niege d’Eté, Abril e Le Frenchie, lembram que Paris sempre será um grande destino para quem gosta de excelente gastronomia.

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