Serginho do Volei

Coluna do Serginho

Um brinde à família

Publicado em: Sáb, 16/05/20 - 03h00

Ele me incentivava a treinar, levava, buscava, ensinava, jogava junto, vivia e continua vivendo intensamente cada jogo. Ela insistia nos estudos, mas não acompanhava de perto e, muitas vezes, tentava me blindar do desejo dele de lançar um atleta profissional.

Meu pai foi atleta de futebol, jogou no Atlético e no Cruzeiro, mas não se profissionalizou. Seguiu estudando e foi obrigado a trabalhar para arcar com as despesas que não seriam mais pagas pelo clube. Não deixou de ser um amante do esporte e depositou bastante expectativa em mim. Ele querendo me levar para o clube, eu querendo ficar em casa, e a minha mãe intermediando a “confusão”. Quando diminuiu a pressão, comecei a gostar espontaneamente e a me interessar mais pelo esporte. Tinha 8 anos, e o futsal foi o meu esporte favorito durante cinco anos.

Enquanto isso, minha mãe seguia incentivando os estudos. Tinha convicção de que era o melhor caminho e não admitia deslizes. Esporte sempre foi segundo plano na cabeça dela. Quando fui “demitido” a primeira vez, prestei vestibular e passei, era o sonho dela se tornando realidade. Essa alegria durou pouco: recebi um convite para retornar às quadras e realizar o meu sonho. Ela, como mãe, apoiou, mesmo não concordando. 

Quando me efetivei como atleta profissional, os dois viraram um e levavam a irmã de mascote. O solitário pai, que acompanhava minha trajetória desde criança, contava com a companhia da mulher e da filha nas arquibancadas. Presenças confirmadas em todos os jogos. Algumas vezes, eu brincava com eles e dizia: “Se eu fosse vocês, não iria a esse jogo hoje, não será um bom jogo para assistir”. Em vão, porque eles sempre estavam lá. Foram parte da torcida do Minas por um tempo, viram o filho conquistar o mundo com o Sada Cruzeiro e já sentem saudade das arquibancadas. Imagens e recortes não nos deixam esquecer o quanto foi gratificante cada momento. 

O vôlei ainda proporcionou um encontro ímpar na República Tcheca, onde joguei nesta temporada. Reunimos as famílias no Natal e no réveillon, nosso apartamento parecia uma colônia de férias. Um pouco de calor humano em um país tão gelado nos aqueceu para suportar a distância por mais dois meses antes do retorno. Viver na Europa tem suas qualidades, mas estar em Belo Horizonte, perto da família, não se compara. Maiores fãs, maiores críticos: um brinde à família!

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.