O que aconteceu com o velho e bom trim trim? O toque que sempre foi sinônimo de telefone chamando, mesmo com a chegada dos celulares, agora está em extinção. Com as novas tecnologias, são muitas as opções de toques à escolha do cliente, desde músicas conhecidas e desconhecidas, criadas especialmente para o aparelho, passando por ritmos de todas as partes do mundo, como rumba, salsa e samba, até ruídos que imitam sons da natureza, risada de criança, sinos, enfim, toda a sorte de barulhos.
Em lugares com muita concentração de gente, como uma redação de jornal, a balbúrdia se instala. Invariavelmente, o dono do celular sai, deixa o aparelho em cima da mesa e o bichinho começa a tocar.
De repente, uma música eletrônica bate-estaca irritante toma conta do ambiente. A qualidade do som é terrível, mas não pior que a qualidade da música escolhida. E cadê o dono do celular para interromper aquela barulheira? Sumiu.
Evidentemente, a pessoa escolhe um toque que tem a ver com ela. Imagina que assim vai se destacar no meio dos demais, vai ser um indivíduo no meio da multidão. E dá-lhe sertanejo, Beatles, tema de filme, hinos religiosos - aqui no jornal tem um celular que toca "Abençoa Senhor as Famílias Amém", do padre Antônio Maria -, ou do clube do coração, sempre de acordo com o gosto do cliente.
Existe até hit da temporada. "Dança do Créu", segundo um site que baixa ringtone na rede, está no topo dos dez mais atualmente. Imaginem vocês!
O problema é que, mesmo quando a música é lindíssima, nenhuma resiste à limitação da qualidade da reprodução do aparelho. E raramente você consegue, de cara, reconhecer de que canção se trata.
E, como já disse, nem só de músicas vivem os ringtones. À toda variedade de ruído que se possa imaginar, juntam-se frases ditas por vozes horrorosas. A maioria de péssimo gosto como "Atende essa merda, pô!".
Mas há os criativos, é verdade. Como os donos de aparelhos mais modernos que tem a possibilidade de baixar música da internet ou pela própria operadora. Marcelo Miranda, um dos repórteres do Magazine, por exemplo, vinculou meu número à famosa música de "Psicose". Tocou os apavorantes acordes da cena do chuveiro e Mirandinha já sabe que a chefinha está chamando. Achei genial!
Por mais espirituosos que sejam alguns casos, o fato é que o velho e bom trim trim está com os dias contados. Fico imaginando que as novas gerações nunca saberão que um dia os telefones todos emitiam o mesmo tipo de som. Sim, porque logo logo vão inventar novos toques também para os telefones fixos e o trim trim será coisa do passado.
Os próprios fabricantes de celulares já acham isso e colocam todos os tipos de sons, menos o trim trim. Outro dia, uma colega do jornal, Andréa Castelo Branco, foi tripudiada por causa do irritante toque do seu telefone - um som de sino intermitente que a cada segundo vai ficando mais alto. Em sua defesa, ela argumentou que a aquele era o menos irritante entre as opções do seu aparelho. Ninguém acreditou, mas era verdade. Depois de virar seu celular pelo avesso, pude comprovar: todos eram medonhos.
Então, fica aqui uma sugestão pela volta do velho e bom trim trim. Ele é inofensivo, não faz mal aos nossos ouvidos, nem a nossa sensibilidade.